HORA DE IR E DEIXAR

HORA DE IR E DEIXAR

Lucia Elena Ferreira Leite

O tronco forte da árvore vergou-se, castigado pelo tempo e pela moléstia.

Fidel adoeceu.

O comandante deixou o comando e agora? Ficará o navio a deriva?

Começo a preparar em mim, a partida de Fidel para o outro lado.

Penso na sua força e coragem e o que ele significou para nós, da minha geração que queríamos a revolução aqui no Brasil também. Um socialismo moreno, brasileiro, do nosso jeito, mas, um sistema mais justo.

“... Maravilha...

Também quero o teu bagaço

A força do teu braço

O afago dos teus calos

Quero os teus regalos

Encharcados de suor

Antilha! Ilha de amor!...”

Estes versos de Chico Buarque e Francis Hime traduziam este nosso querer.

Penso em como é difícil se desapegar das idéias, dos sentimentos, das coisas que criamos, das idéias que defendemos.

Fidel nos mostra agora que somos, sim, mortais, e que deixaremos os nossos feitos que, talvez, apenas para nós tenham real importância, ao sabor dos implacáveis críticos do futuro que nos irão julgar, condenar ou redimir, sem conhecer os nossos motivos e razões, sem entender os nossos meios e os nossos fins.

Ouço, de novo, várias vezes, Pablo Milanez em sua Cancion pela Unidad de Latino-America e me emociono com a expectativa visionária dos homens que imaginaram uma América Latina unida e forte, cada vez mais utópica.

Cuba sofreu, sacrificou-se para ensinar que qualquer País pode ser livre e trilhar seu próprio caminho, voltado para o bem maior dos seus, na superação das suas necessidades e deficiências. Para isso, privou-se de acesso aos bens de consumo, à modernidade. Privou-se da liberdade. Viveu todos estes anos em regime de guerra e de sobrevivência, mas transformou-se em País de 1º. Mundo na saúde e na educação.

Fidel conduziu o processo com apoio da maioria do seu povo.

Agora é hora de ir e de deixar.

Novos tempos virão para Cuba e para a humanidade.

Não sabemos como serão.

No entanto, os que vivenciaram e conduziram os velhos, duros, negros, tempos e dedicaram toda uma vida a esta árdua tarefa, merecem o nosso respeito e as nossas honrarias, se não a nossa total anuência.

A Fidel, nesta reta final, a minha vigília, minha despedida gradativa e minha saudade antecipada.

Lucia Leite
Enviado por Lucia Leite em 04/05/2008
Código do texto: T975036