O poeta e a noite

O poeta e a noite juntos sempre andaram. Ela, deusa plena e inveterada, dos versos sofridos do poeta alimentava-se. Em troca, dava-lhe sempre novas inspirações, mostrando novas aventuras regadas a novos jogos de amores.

O poeta, sem pestanejar, a seus vícios entregava-se, total era a sua loucura e seus devaneios em noites atribuladas, regadas de rosas misturadas com o doce amargo vinho.

A sua poesia e a noite se amaram intensamente, madrugada afora, fundindo-se em um só ser. Ao raiar do dia, o poeta novamente acorda com o doce amargo vinho em seus lábios, olha para o lado e vê próximos às taças, os espinhos que sobraram das rosas que a noite deixara. Seus poemas ele pega, começa a folheá-los com uma raiva incontida, rasga-os e vai à janela admirar o sol. Em seguida, o poeta volta para o que sobrou dos poemas destruídos, começando a reescrevê-los.

O dia passa, surge a noite com outro convite, mais um bar, muitas bebidas. A noite tinhosa traz novamente outras rosas cercadas de muitos espinhos. O poeta tenta resistir, pega suas coisas e sai. Olha para o céu, a noite apenas para ele sorri; outra parada, novos vinhos. Observando em outro bar o vai-e-vem constante de corpos em busca do prazer noturno, sem pestanejar reescreve neles a sua poesia. O poeta deixa de lado seus valores e pudores e bebe do seu doce amargo veneno. A noite novamente parte, após saciar-se dos seus versos.

No raiar do dia, o poeta acorda e da noite passada vê apenas as sobras do seu vinho manchando os lençóis, mas com um leve sorriso no rosto olha para o lado da cama: não só vê os espinhos que a noite sempre deixara, mas sim uma rosa que com amor a noite ali fizera brotar e para o poeta deixara.

EDU
Enviado por EDU em 04/05/2008
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