Um Grande Goleiro

Por volta de 1939, Jurandir, para não desmentir uma tradição, estava saindo do Palestra Itália para ir jogar na Argentina, terra de grandes goleiros.

O Palestra Itália era, na época, a fábrica dos maiores jogadores nessa difícil posição. De 1930 a 1940 por ali jogaram Picagli, Primo, Nascimento, Aimoré e Jurandir. Nessa lista entraram, depois, Gijo e Oberdan Catani, todos de seleção.

Na Argentina, Jurandir foi jogar por um clube médio de Buenos Aires e foi morar numa pensão muito popular, onde moravam muitos jogadores, principalmente do Boca Junior.

Era a pensão da Dona Rosa, a torcedora símbolo do Boca.

E como o time em que Jurandir jogava iria enfrentar o Boca no domingo, durante toda a semana Jurandir teve de agüentar as brincadeiras dos outros jogadores dentre os quais existiam vários do Boca Juniors, como Cassam e Massantonio, grandes artilheiros portenhos.

No domingo, dia do jogo, Dona Rosa chegou perto de Jurandir e, carinhosamente, lhe disse: “meu filho, eu tenho pena de você. Mas nada posso fazer, pois o meu time é mais forte e precisa vencer. Até estou pensando que você irá buscar a bola no fundo das redes muitas vezes”. E saiu para a Bombonera para assistir à partida.

No final da partida, a equipe de Jurandir venceu o Boca Juniors por 1 x 0 . Jurandir fechou o gol e o seu time fez o que parecia impossível: derrotar o gigante de Dona Rosa.

Depois de ser muito festejado pela sua pequena torcida, Jurandir saiu com os seus companheiros de time para comemorar a vitória em um bom restaurante de Buenos Aires.

Já tarde da noite Jurandir rumou para a pensão de Dona Rosa. Estava deserta. Apenas o velho Emílio Mendes, que era o vigia da casa e torcedor fanático do River Plate, estava por ali. Jurandir recebeu dele os maiores elogios pela partida disputada naquela tarde.

Quando Jurandir entrou em seu quarto notou que em cima de sua cama havia um buquê de rosas e um bilhete: “Estou triste pelo Boca ter perdido, mas muito feliz, pois aqui em minha casa mora o melhor goleiro do mundo”. Ass. Rosa Benitez.

obs. Esta crônica foi baseada em lembranças de leitura do Jornal Mundo Esportivo.

Laércio
Enviado por Laércio em 04/05/2008
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