Três mulheres, três mães

Na manhã fria de domingo acordei cedo para buscar, fora do sono, um instante de silêncio. Dado aos treze graus, segundo o termômetro de parede, um cafezinho bem quente ajudaria a aquecer o corpo não acostumado ao frio. Após o cafezinho, sentei em uma cadeira, fechei os olhos e viajei com a mente solta, sem controle. Vaguei pelo mundo silente dos sonhos despertos. Nem o frio conseguiu enrijecer meu corpo, relaxado e livre experimentei a vastidão da imaginação em liberdade.

Um desfile de imagens e fatos, como um filme sem o controle do tempo e do espaço, passou por minha mente, talvez imagens de meu inconsciente, guardadas em um arquivo oculto, que somente no silêncio profundo consigo acessá-lo. Dentre várias imagens, a primeira foi de minha mãe. A imagem passada, na viagem onírica desperta, não era a sua dos dias atuais com setenta e dois anos; era a imagem de uma mulher muito jovem acalentando-me em seu colo, muito embora, eu não me sentisse pequenino. Naquela fração de segundo, senti o arroubo de seus carinhos, a doçura de seus beijos, a meiguice de suas palavras, a firmeza de suas cobranças e o seu olhar de reprovação. Por outro lado, seu sorriso era muito largo em minhas vitórias, ela era a pessoa mais feliz, mais exultante. Ali entendi que as minhas conquistas, alegrias e dores não eram apenas minhas, eram suas também.

A segunda mulher, que desfilou nessa viagem onírica desperta, foi a minha sogra. Num átimo, experimentei mais de vinte anos de convivência, de um relacionamento respeitoso e produtivo. Vi em sua figura uma segunda mãe e uma dádiva em minha vida. Ela me presenteou com o melhor que poderia dar: a sua filha.

Naquela viagem gostosa, as profundezas de minha mente, não poderiam terminar antes de encontrar a terceira mulher. A sua imagem de silhueta pequena e sorridente surgiu em minha mente como um facho de luz. Iluminou minha mente, meu coração e fez resplandecer minha alma. Como ela eu conheci o amor, com ela vivi o amor. Minha companheira de uma jornada nesse caminho, que convencionamos chamar de vida. Nessa jornada, caminhamos de mãos dadas, vencemos desafios, dificuldades, e juntos, compartilhamos as dores e saboreamos o gosto doce das vitórias. Não somos apenas um, ou mesmo dois, somos a união da diversidade, respeitando a individualidade. Essa pessoa maravilhosa deu-me uma preciosidade, um filho, e com ele constituímos nossa família.

De repente, o silêncio foi se esvaindo e eu voltei da viagem às profundezas de minha mente. Abri os olhos e tentei entender aquela situação, olhei para o lado e vi um tablóide publicitário onde estava escrito “presentes para o dia das mães”. Refleti, agora de olhos abertos, e cheguei a conclusão: o maior presente de minha vida foram três mulheres, três mães.

Roberto Pelegrino
Enviado por Roberto Pelegrino em 04/05/2008
Reeditado em 05/05/2008
Código do texto: T974491