A MOÇA QUE GUARDAVA OS LIVROS

Atrás do balcão, paira um par de olhos misteriosos. Escaneio os livros na estante, mas meus pensamentos não respeitam a lei do silêncio e eu sigo gritando mentalmente: "Drummond de Andrade, Oswaldo de Andrade, Mario de Andrade - caramba que tanto Andrade - Bandeira, Manoel Bandeira! Achei!!!". Foi ai que percebi que estava gritando e olho pro lado, o par de olhos não me escutou, mas permanece observando. Ela é a moça que guarda os livros. A guardiã do saber e supervisora da quietude.

Lá fora o barulho da rua dissipa a mente. Ali dentro, a ausência da fala leva reflexão a mente, direcionam os olhos ao conhecimento; por isso penso baixo, não quero perturbar a paz; não quero que a moça que guarda os livros, troque o seu sorriso pela seriedade do cálice.

Acho meu Bandeira. Troco a leitura tentadora do Ubaldo por mais uma coletânea de poesias do Drummond; a moça olha com surpresa para as minhas escolhas de leitura.

- Carlos Drummond e Manuel Bandeira? Profunda a sua leitura, moço! - Diz ela.

Eu queria responder: "Nem tanto, moça, nenhum dos dois poetas consegueriam descrever a imensidão do seu olhar", mas eu acabo respondendo: - É sempre bom descobrir os autores clássicos, não é mesmo?

Ela concorda com um sorriso tão misterioso quanto o seu olhar. Nossa conversa não passa disso. Nem flerte, nem amizade. Clássico! Jamais saberei o universo por trás daqueles olhos ou a razão do seu meio sorriso. Será que a moça que guarda livros é parente da Monaliza?

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