O fim da prostituta do bairro
Todos os dias ela, não sei o nome, muito magrinha descia o morro, dizia que ia trabalhar, era prostituta e fazia ponto perto do hospital do câncer, era de fora, acho que do Estado do Ceará. Vivia doidona, adorava fumar uma maconha e de vez enquanto tomava uma picada na veia, seu corpo fedia a uma espécie de mistura de perfume barato, por onde passava deixava um rastro de cheiro.
Nunca tentou sair dessa vida, aliás, ela gostava de se vender, gostava de sentir-se desejada pelos homens. Lembro que ela já teve várias chances de arranjar outra espécie de emprego, mas ela não agüentava receber salário. Em certo dia dei uma carona para ela, meu carro ficou fedendo a perfume barato por três dias, na hora de despedir dela dei-lhe um beijo no rosto, parecia que ela estava com uma mascara de maquiagem. Resumindo: ela nasceu pobre, nunca teve chance de estudar, não tinha família, virou prostituta para poder sobreviver.
Hoje quando eu passei no bairro cidade nova eu a vi deitada no chão, nem dei idéia, achei que ela estava doidona dormindo na rua, a tarde quando precisei voltar a cidade nova ela ainda estava lá, só que dessa vez sendo recolhida pelo carro do Corpo de Bombeiros. Findou-se uma vida, findou-se a prostituição daquela mulher, findou-se as drogas, findou-se as noites, tudo acabado.