O CIÚME .

 

    Já   ouvi e li várias definições sobre o ciúme. Quando era mais moço soube pela primeira vez que : “amor sem ciúme é flor sem perfume”. Não entendia bem o que queria dizer e até achava engraçado.

   Mas tarde soube de uma frase que dizia que o “ciume é o tempero do amor”. Será ? Já soube de tanta gente que brigou e matou por causa de ciúme. Eu mesmo, reconheço, sou um pouco ciumento. Já fui mais, muito mais. Hoje entendo que meu ciúme sempre foi uma enorme tolice.

    Mas e o ciúme do seu Tenório ? O seu Tenório era um próspero fazendeiro de uma cidade do interior de Minas. Homem de posses e muita pose, desses de estar sempre preocupado em manter as botas lustrosas e o chapéu impecável.

   Casado há vários anos com Dona Eulália tinha cinco filhos e oito netos. Seu Tenório era um homem muito ciumento só que seu ciúme não era pela mulher, pelos filhos e nem mesmo por qualquer um dos netos. Com a mulher, não vivia tão bem assim e com os filhos e netos, não tinha muito tempo para dar atenção. A grande paixão da sua vida era uma vaca . Sim uma vaca leiteira, que não que era uma vaca qualquer.

   Estamos falando da senhorita Docinho, pois esse era o nome da grande rival da Dona Eulália. Era pela Docinho, uma vaca super-premiada e valiosíssima que seu Tenório mais suspirava. Docinho tinha tratamento de uma princesa e seus súditos eram os empregados da fazenda .

   Certo dia, depois de uma intensa chuvarada um dos touros de uma fazenda vizinha fugiu e quis o destino (ou o azar do seu Tenório) que depois de andar sem rumo durante muito tempo, o animal fosse aparecer justamente nos aposentos da Docinho, que certamente adorou a visita, tanto é que não reclamou e nem fez nenhum escândalo.

   A romântica noite dos dois bovinos só foi descoberta no dia seguinte e seu Tenório quando soube quase teve um enfarte. Foi socorrido com dois copos de água com açúcar e uma dose caprichada de uma pinguinha braba que ele tinha acabado de ganhar de presente. Por incrível que pareça ele se sentia traído e com um ar de desconsolo, passou a mão pela testa, ficando um pouco mais aliviado de ali só ter encontrado várias rugas. Por via das dúvidas e para evitar mais surpresas desagradáveis, tomou mais uma dose daquela pinguinha braba.

   A questão era a seguinte: se a Docinho ficasse prenhe, quem deveria ser responsabilizado ? Ele não era doido o suficiente para consentir que aquele touro vadio e sem vergonha passasse a viver em companhia da sua Docinho. Ainda muito aborrecido (até aproveitou para , com essa desculpa, tomar mais uma boa dose da pinguinha) e um pouco cambaleante, dirigiu-se ao abrigo onde estava a sua grande paixão.

   Segundo alguns empregados de confiança, derramou sentidas lágrimas abraçado a sua querida Docinho. Quando Dona Eulália soube do fato, enfurecida dirigiu-se ao local onde estava seu marido e a rival mas antes, por pirraça e vingança, deu ordens à cozinheira para fazer carne ensopada com abóbora para o almoço, comida que seu Tenório detestava.

   Vendo seu marido e o animal abraçados Dona Eulália, tomada por uma fúria incontrolável, aos gritos encostou seu Tenório na parede, dando-lhe um prazo até a hora do almoço para decidir com quem ele queria ficar e dedicar todo seu amor , afeição e a herança: com ela ou com aquela vaca azeda.

   Seu Tenório, assustado e enxugando às lágrimas, tentando acalmar a esposa respondeu que na hora do almoço, com mais calma, os dois conversariam.

   Dona Eulália, ainda furiosa, ao passar pela sala principal da fazenda viu a garrafa da pinguinha do seu Tenório e sem pensar duas vezes, tomou logo duas caprichadas doses e lambendo os beiços, foi para a cozinha supervisionar o almoço. Um pouco zonza, recomendou a cozinheira que deixasse a carne bem gordurosa, coisa que seu Tenório detestava.

   Na  hora do almoço o clima era de velório. Seu Tenório e Dona Eulália não olhavam um para o outro. O silêncio foi quebrado quando um empregado entrou na sala de refeições todo afobado, dizendo que a Docinho estava passando mal. Seu Tenório levantou-se derrubando a cadeira e saiu correndo para ver o que estava acontecendo.

   Voltou quase um hora depois. Não era nada sério e estava tudo bem. Levou outro susto quando entrou na sala.

   Suas roupas estavam cuidadosamente arrumadas no assoalho e Dona Eulalia, segurando a garrafa da pinguinha braba e falando um pouco enrolado, disse para o Seu Tenório que não ia sentir a falta dele na sua cama e que não estava nem um pouco se importando se ele, a partir daquele momento, se mudasse para os aposentos da Docinho.

   Em adiantado estado de embriaguez ela prometeu que não ia contar para o touro que seu marido e aquela vaca azeda estariam morando juntos.......

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 04/05/2008
Reeditado em 16/01/2013
Código do texto: T973965
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