Crônica para Mariana
Edson Gonçalves Ferreira
Fui comprar um livro de Adélia Prado para você e, depois, revivi vários momentos de minha vida com minha colega de poesia. Você nem cogitava em nascer, mas eu já descia a Avenida 21 de Abril e, passando pela casa da Tia Criola, mãe da Ione, da Irani e do Iracino, ia, ainda criança, com os colegas seminaristas e com os frades para a BDL (Beirada da Linha) onde nasceu e cresceu a Adélia.
Ali, nós fazíamos um trabalho social no Beco do Aflitos onde moravam pessoas pobres demais e prostitutas e, em cima dos muros da E.E. Halin Souki, eu, Glória Prado, Marlene Prado e amigos, fazíamos teatro para entretenimento do povo que morava ali perto, bem perto da casa onde Terezinha, Glória, Adélia Prado viviam.
A Avenida 21 de Abril onde existia a nossa casa, sim a cada da mamãe e do papai onde todos vocês, meus sobrinhos, passaram a infância e, quando crianças de colo, adormeciam sobre o meu peito ou sobre a minha barriga, quando estavam com cólidas, enquanto eu cantava músicas de embalar, sempre foi ponto de encontro dos músicos e intelectuais quando sua mãe, Mariana, era criança.
Eu ficava num banquinho, na porta da cozinha, agachado, escrevendo contos e poesias e assim que Totonho Machado, Petrônio Bax, Ataliba Lago, Rubem Braga, Rosenwald Hudson, Sebastião B. Milagre e outros intelectuais e músicos chegavam. Eles passavam a mão na minha cabeça e me diziam que, um dia, eu seria um grande escritor.
Acho que me tornei um escritor, se sou grande ou pequeno não interessa, me interessa apenas que eu escrevo sobre o meu universo e você faz parte dele. Voltando, contudo, para a Adélia, quando ela autografou o livro para você, revivemos até o casamento dela. Eu fui, mas só tinha uma camisa branca que sua avó preparou e, todo feliz, fiquei bem no corredor, para ver Adélia entrar. Não é que um pombo, voando na Igreja de São José, lá do Catalão, fez cocô no bolso da minha camisa. Fiquei sem graça e a festa quase acabou para mim.
Seu aniversário, Mariana, acontece colado ao Natal e, desde menino, sempre fui, em nossa família, o que mais gostou de Natal. Era eu quem fazia as árvores da casa da sua avó, era eu quem providenciava até os enfeites quando, nos tempos da vaca magra, não tínhamos dinheiro para comprar.
Assim, Mariana, com esta crônica de hoje, quero que você medite muito sobre o momento atual de bonança que você vive – que nós vivemos - e agradeça a Deus e, também, a sua avó Dona Nita por nos ter dado toda a ternura da vida dela e nos ensinado que sentimento é mesmo a coisa mais preciosa do mundo. Lição maior não existe, acredite.
Divinópolis, 22.12.06