Fama

Quando ele acordava, ainda sem Sol no horizonte, vestia os trajes simples que até hoje usa.

O caminho até o jornaleiro não é longo. As luzes da rua ainda estão acesas, mas breve o dia estará claro. Perto da banca de jornal tem um bar que abre cedo, já que é padaria também.

Ele entra e não precisa pedir nada. Já é conhecido. Vem logo um copo onde a mistura varia de tempo em tempo. Pode ser cachaça com vermute ou uísque de qualidade razoável. Depende da fase. Um copo de água mineral lava a beberagem e ajuda a dissolver o álcool.

O jornaleiro espera o cliente diário.

Leva o seu jornal para casa e só então toma café, fumando muito. Estes hábitos já trouxeram muitos problemas e algumas internações. Até hoje, sempre conseguiu superá-las.

Depois de ter lido o jornal, inclusive texto dele mesmo, parte para o computador e escreve com facilidade. Pouco importa se está um pouco alcoolizado ou não. É verdade que se passar de um ponto limite, vai escrever algo que parecerá excelente, mas quando for relido, sem muito beber, constatar que o texto não tem pé nem cabeça, e tem que ser refeito. Ele já confessou isto em várias entrevistas; não é um mentiroso, muito menos um qualquer.

É um homem brilhante, muito conhecido.

Escreve desde moço com sucesso. Quando necessário, ele mesmo faz a versão dos seus livros, por causa das expressões empregadas. Ou seja, o homem é um talento com erudição, coisa rara.

Passa longo tempo sem beber, por proibição médica. Com peso excessivo e coração já comprometido, felizmente não um caso perdido, ele anda no calçadão alguns quilômetros. Fica visivelmente mais saudável e faz questão de comentar com todos que está num período de abstinência, inclusive do cigarro.

Recuperado totalmente , segue escrevendo para jornais conhecidos. A qualidade dos textos não se altera, estando ele na fase negativa fisicamente ou com a saúde em ordem.

Quando comparece a alguma entrevista, faz com que todos riam de verdade: o homem é engraçado e um falador de primeira, além de irradiar simpatia.

Ando com saudade dos seus livros. Mas parece, não sei se é verdade, vem coisa nova aí.

Gostaria de conhecer este cara pessoalmente. Seríamos bons amigos, suponho. Mas entre gostar e ser realidade vai uma distância, que um dia, quem sabe, será vencida.

Enquanto isso, o Imortal deve estar pensando em alguma astúcia...