PAI, SAUDADES!
O ser humano, em sua escalada evolutiva, através do esforço, boa vontade e perseverança, procura trilhar o caminho do Bem.
Assim foi com esse homem extraordinário, de caráter marcante, que através da luta pela sobrevivência, se fez um homem de Bem – Meu Pai!
José era seu nome, de origem hebraica, indica um ser sensível, confiante, generoso, conciliador, aquele que acrescenta.
Nasceu no sítio Jenipapeiro, sertão paraibano, antes pertencente ao município de Catolé do Rocha. Órfão de pai aos quatro anos, cresceu, juntamente com seus irmãos, sob os cuidados de sua querida Mãe, que ficara viúva muito nova, de sua avó materna e de alguns tios, ainda solteiros. Todos deram, além do carinho e disciplina, valores de vida que ele carregou consigo durante toda sua existência.
Criança esperta começou a lidar com as letras aos seis anos. Naquela época, 1917, o estudo era precário na zona rural. A nossa comunidade sempre trazia para a casa de um membro da família, alguém, mesmo sem formação pedagógica, mas que sabia um pouco de português e matemática, para dar o ponta-pé inicial na formação escolar daquela meninada. Meu Pai, inteligente, extrovertido, conseguiu logo absorver as primeiras lições ministradas pelo seu professor de quem se tornou, pelo convívio, um grande amigo.
Recordo ainda com emoção, ele contando que fora convidado pelo seu Mestre a irem juntos até a cidadezinha próxima do sítio, para assistirem a missa do domingo, que acontecia uma vez por mês. Na hora marcada, ansioso, pensou que o seu protetor não viria, mas qual não foi sua alegria quando ao longe o avistou, montado em seu cavalo. Usando de uma grande virtude, a sinceridade, disse: “O pessoal estava dizendo que o senhor não vinha me buscar”. E o professor respondeu: “Barbosa, a primeira qualidade do homem de bem é não falhar em seus compromissos. Lembre-se sempre destas palavras de seu velho amigo e professor das primeiras letras”. E meu pai seguiu à risca os seus conselhos. Homem do sim, sim, não, não, nunca falhou com sua palavra e disso sou testemunha.
Foi crescendo com muita desenvoltura, de uma inteligência aguçada, sempre enfrentando os desafios da própria vida, conseguiu conduzir o seu barco, como um grande timoneiro. Ainda o escuto, dizendo meio brincalhão: "Segura o remo, Zé Barbosa, senão o barco afunda".
Casou-se aos 23 anos e teve uma prole de nove filhos. Continuou no trabalho agropecuário e mais tarde tornou-se funcionário público. Morando em Riacho dos Cavalos, ingressou na vida política, mas não conseguiu se eleger como prefeito da cidade. A honestidade, a generosidade e a responsabilidade foram os valores inerentes ao seu espírito e que tão bem soube passar para os seus filhos. Ficou viúvo aos sessenta anos e com noventa e dois, ainda lúcido, foi chamado a voltar à pátria espiritual.
Existia uma grande afinidade entre nós! Nos últimos anos, longe do seu convívio, não podia cuidar dele como gostaria, mas sempre que podia ia visitá-lo. Certa vez, me disseram que quando ele era avisado que eu ia chegar, seus olhos brilhavam de contentamento e o sorriso se fazia presente. Afinal sou a oitava da escala e a caçula das mulheres. Carinhoso e carismático tinha o apreço e o respeito daqueles que dele se aproximavam.
José Barbosa de Almeida deixou para seus filhos e gerações seguintes o exemplo de um homem digno, de personalidade marcante, de amor e dedicação para com todos. Os seus ensinamentos, meu querido Pai, vão se perpetuar para um todo e sempre. Obrigada Pai!
Neneca Barbosa
João Pessoa, 08/01/08