Duplas explosivas
O mundo acontece aos pares e a felicidade só tem graça dividida. Pena que certos duos funcionem tão mal: visão dupla, dupla personalidade, dupla de um... Dupla atribulação é pior que dupla tributação: quando minha filha teve meningite, contraí dupla pneumonia. Por sorte, ambas recuperamos, o que me obrigou a ouvir os álbuns duplos de Sandy e Júnior por toda a longa infância dela. Gosto não se discute, eu sei, mas penso que duplas musicais quase nunca dão certo. Pior, só a combinação dupla sertaneja e dor de cotovelo...
Há duplas literalmente explosivas: Mentos e Coca-Cola, dor de barriga e gripe, gasolina e fósforo, URSS e EUA, Fat Man e Little Boy, pimenta e tequila, FARC e Hugo Chavez... Chimarrão na praia e sol de verão, só gaúcho explica.
Em certos pares, um sempre se dá mal: Tom e Jerry, Caim e Abel, insônia e medo, carência e belas palavras, dia de pagamento e liquidação na loja favorita, paquera e escritório ( roupa sexy e trabalho, meninas, só dão trabalho – a menos que este seja o trabalho, claro). Outros são como água e óleo: americana e biquini, Quércia e Serra, rotina e casamento, samba e inglês. E vamos combinar: ti e você no mesmo poema definitivamente não combinam!
Quem tem errado feio na combinação é o álcool, que certamente já viveu momentos mais populares. O etanol é acusado de diminuir a oferta de comida do mundo, apesar de usar apenas 1% da área agriculturável do país. Crê quem bebe ou está mal informado: o vilão é a dose dupla de protecionismo e subsídios distorcidos dos países desenvolvidos, não o biocombustível. Já a combinação da bebida é soda: promove estragos na beleza e saúde com o cigarro; na estrada, com direção; e na reputação, com o estômago vazio. Bebida e sexo são como roda gigante, tanto sobe quanto desce. Vodca e jornalista russo ocioso dá no que deu: a notícia que Putin tinha se separado para ficar com a jovem ginasta russa espalhou-se pelo mundo rapidamente e provocou o fechamento do jornal. Bem feito: para agüentar tanto boato irresponsável da imprensa, só com dupla caipivodca. De lima da Pérsia e sem açúcar, por favor.
Em duplas explosões os efeitos potencializam e fica difícil localizar o epicentro. Sobra para terceiros que nada tinham a ver com o pato. Oceano e terremoto dá maremoto; conflito da ditadura chinesa e monges tibetanos, boicote às Olimpíadas. Da combinação diarréia e cartas da esposa e amante saiu o Independência ou Morte. Na dupla água salgada e areia, sofre o aparelho de som; no confronto de bens e amor, os filhos. Tratar fungos com simpatia faz mal aos pés; tratar dengue com negligência faz mal aos cariocas. Corrupção e impunidade: quem implode é o povo; acusação e anonimato: o injustiçado. Comida gostosa mais fome: sobram gordurinhas.
Algumas duplas não combinam, mas insistem. Minha tia casamenteira aconselhava: se não combina, é porque te completa. É mentira, não entre nessa. Política, por exemplo, não combina com futebol ( FIFA e ministro Zico, recorda?), religião ( dos Garotinhos e Benedita não se esquece), ou interesses pessoais ( agora Cid Gomes vai lembrar). Público e privado detonam sempre.
Política brasileira desanima e a gente pensa como seria bom ganhar sozinho na Dupla Sena e bater asas, numa via de mão única... dupla ilusão. Prefiro aguardar para celebrar a goleada do Cruzeiro sobre o Galo no próximo jogo da rodada dupla ( domingo passado foi 5 x 0 para nós!) ... dupla emoção.
Então, ficamos assim, o dito pelo não dito...
Viu só no que deu a dupla explosiva falta de assunto e vontade de escrever? Uma bomba!