O Mar e o Vento os Trouxeram... Berenice Heringer

"Eu também sou rei e não ouvirei"...(fala de um cacique Pataxó a um bispo).

O Caminho Marítimo para as Indias foi traçado pelos católicos, assim como o Tratado de Tordesilhas pelos espanhóis. "As preces foram enviadas!..."= Ite missa est ide. Missu é particípio passado do verbo mittere, que significa enviar. Missal, missão, missilis, e por aí vai, até o míssil à ogiva nuclear, o missionário, o missioneiro, este último, relativo às antigas Missões Jesuíticas do Uruguai e do Paraná, também o natural ou habitante desses lugares. Misionero, missiva, missivista. Quando a Missão vira massacre?

Ah! Se os europeus não tivessem saído da Europa em 1490! Se Américo Vespúcio, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Orellana, Vicente Pinzón, Cristóvão Colombo, tivessem ficado por lá, a América ainda seria um paraíso. Até que podemos aceitar Marco Polo (não o Levorin de agora), porque ele trouxe só o macarrão lá da China.

Trazidos pelo Mar e pelo Vento...Mas a energia mais poderosa que os impulsionou foi a ambição, que é o desejo veemente de alcançar bens materiais e Poder e Riqueza...Por que a Igreja Católica entrou nessa? Não sou herege. Fiz a pesquisa e sei que não me enquadro. Sou só um incréu, um incrédulo doutras crenças. Incréu não tem a forma feminina. Mas, algures, me incluí na categoria de um Bule, aquele de pôr cafe.

Os reis da Espanha, Fernando e Isabel de Aragão e Castela, católicos fervorosos, eram também fanáticos por riquezas e poderio. Frei Bartolomeu de las Casas, (acho o prenome um primor para batizar um Bar, ainda mais se desdobrado em Tolo e Meu), foi o hisstoriador que narrou as peripécias da descoberta do Brasil pelos espanhóis em 26 de janeiro de 1500. Os guapos e audazes súditos espanhóis, fidalgos como Alonso de Hojeda "alto e atraente, mas ganancioso, rude e extremamente cruel", era o favorito de Isabel e protegido de Don Juan Rodrigues de Fonseca, bispo de Córdoba, "responsável por todos os negócios da India". O tal galã Alonso foi escolhido por Colombo para capitanear uma caravela na segunda viagem à América. História é um estudo fascinante. Mas vá à fonte, com Eduardo Bueno, em Náufragos, Traficantes e Degredados.

Como é que Portugal conseguiu salvar o Brasil da sanha dos espanhóis? Somos os únicos na América do Sul e Central a falar o português. Os lusos, criticados aqui no Brasil, merecem nossa gratidão e apreço por nos livrar dos sanguinários, déspotas, ditadores e insaciáveis espanhóis. Imaginem a sagacidade de um Torquemada! A história é uma radiografia nítida e crua dos fatos passados. Mesmo distorcidos e maquiados, as evidências falseadas, os rastros ficam lá, como nos palácios e templos maias, incas, astecas, repletos de cultura e riqueza que os espanhóis destruiram. Eles conseguiram dizimar a civilização de todos os povos precolombianos da América. Se o rei Juan Carlos da Espanha disse para Hugo Chávez se calar, este tão ousado quanto aquele, imagine euzinha? Uau!

No filme A Missão, obra-prima da sétima arte, temos o massacre dos inocentes e crédulos, o canhão destroçando a Cruz, as bazucas despedaçando as igaras e ubás, os trabucos desconjuntando as ocas e os corpos humanos. Hoje os índios estão sendo massacrados pela dita civilização. Doentes, drogados, degradados, ingerindo as porcarias da indústria, eles que foram todos catequizados e evangelizados por legiões, legionários, missionários, missivistas, mitomaníacos e fanáticos. Para se eliminar o Totem, comete-se o sacrilégio do Tabu. Desprezam-se todos os preceitos, violam-se as Leis, destronam-se as majestades primitivas e elege-se o Senhor das Moscas, uma cabeça de porco enfiada numa estaca. Os cristãos, tão endeusados e caridosos, são adeptos e praticantes de barbaridades. Como outros tantos...

Vila Velha, 27 de abril de 2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 30/04/2008
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