O PADRE QUE QUERIA VOAR

INSANIDADE - Em dezembro de 1685, nascia na então Vila de Santos, em São Paulo, o jovem Bartolomeu Lourenço de Gusmão. Rapaz brilhante, de idéias avançadas para sua época, logo se destacou. Fez os estudos primários em Santos, seguiu para o Seminário de Belém (Bahia), a fim de completar o Curso de Humanidades, vindo a filiar-se à Companhia de Jesus, sob a orientação do grande amigo de seu pai e fundador daquele Seminário, Padre Alexandre de Gusmão. Em 1705, com apenas 20 anos de idade, requereu à Câmara da Bahia, o privilégio para o seu primeiro invento. Era um aparelho que fazia subir a água de um riacho até uma altura de cerca de 100 metros. A água não precisaria mais ser transportada morro acima nas costas de homens ou em lombo de animais.

O brasileiro Bartolomeu de Gusmão foi padre com grande influência junto a Dom João V, Rei de Portugal, sobretudo porque aquele moço sacerdote fez voar diante de centenas de pessoas, em 1709, um balão movido a gás, para espanto de todos e preocupação dos inimigos de Portugal.

299 anos depois, outro padre brasileiro, Adelir de Carli, pretendeu voar de Paranaguá (Paraná) até o Mato Grosso, preso a 1000 balões de festa de aniversário, repetindo uma experiência anterior onde ele mesmo tivera executado outra viagem de Santa Catarina até a Argentina, preso a 500 balões.

O padre lunático e desocupado se meteu nesta tremenda loucura apenas para bater um recorde pessoal e protestar pela situação das rodovias brasileiras e ao invés de sair por aí, andando no meio da BR 101 ou da BR 116, o “cara” (de pau), resolveu voar, voar; subir, subir e acabou caindo (sabe-se Deus onde...) por que não planejou as mudanças do clima e, pasme, não sabia operar GPS. A maluquice do pastor católico não parou por aí; nas tranqueiras que ele levou em seu alforje, havia um telefone celular satelital, do tipo Global Star, mas segundo ele mesmo em transmissões feitas de algum lugar da galáxia, o aparelho estava com a bateria quase descarregada, ou seja, ele sequer deu carga no celular ou levou baterias sobressalentes.

Meu avô Ataíde Ferreira Mascarenhas, coronelíssimo do Sertão da Bahia, quando vivo me dizia que “cabeça vazia é oficina do demônio”. Eu morei na Avenida Padre Bartolomeu de Gusmão, em Feira de Santana e somente hoje me dei conta de que esta história do padre pirado tinha tudo a ver comigo, ou melhor, merecia um comentário.

A Marinha do Brasil, Corpo de Bombeiros de Santa Catarina e Paraná, Polícia Civil, Polícia Militar e a família de Adelir, gastaram uma fortuna na operação de resgate; centenas de profissionais que deveriam estar trabalhando em prol dos miseráveis, estavam gastando o “nosso” dinheiro para achar um maluco que pretendeu fazer concorrência ao mineiro Constantino Júnior, dono da Gol Linhas Aéreas, instituindo um meio de transporte ainda mais barato do que os existentes.

Eu fico preocupado, pois no Brasil o que não falta é: inventor, maluco e desocupado; imagine após uma mega festa de alguma criança abastada, as bexigas, que normalmente são jogadas no lixo, são encontradas por outro louco igual ao Padre Adelir, e o cara resolve tirar a limpo esta história de poder voar com balões? Imaginem uma família brasileira assistindo “Tela Quente” na sala e cai um lunático preso a 1000 balões, estatelado na mesa de estar? Imaginem também, eu ou você estar voando num Focker 100 da TAM e do lado de fora um Padre preso a 1000 balões, balançando o dedinho na janela, pelo lado de fora, pedindo carona?

Como se não bastasse o Lula no Planalto, a gasolina subindo feito louco, 80% dos acadêmicos de direito reprovados na prova da OAB, o Ministério Público e a Polícia de São Paulo se enrolando todos com as provas do crime da Isabella Nardoni e a Dengue matando dezenas de pessoas no Rio de Janeiro, ainda temos que ficar vendo a Marinha do Brasil fazendo buscas no mar, a procura de um padre que deve ter fumado um cogumelo do Satanás e incorporou os espíritos de Ícaro, Santos Dumont, Bartolomeu de Gusmão e Davincci, pensando que podia fazer turismo barato pelos céus do Brasil. Isso é demais para mim!

Desculpem-me pelo sarcasmo de uma tragédia, mas eu ainda imagino que deva existir excesso de contingente nas paróquias do Sul, em especial as do Paraná, por que se não fosse este excesso, o Adelir estaria agora rezando a missa e orientando seu rebanho para jamais fazerem babaquiçes desta natureza.

O que eu gosto nestas histórias é que elas sempre me provam que não só sou eu o único maluco...

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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