As MERATRIZES - Berenice Heringer

O uso do cachimbo faz a boca torta. E as palavras caem no ostracismo. Veja bem: abajur lilás, alcoviteira, cafetina, lupanar, mariposa, meretriz e uma pá de velharias encostadas, apesar de as práticas continuarem cada vez mais incrementadas e sofisticadas...Os barcos não precisam mais dos remos, mas os remadores estão a postos. Ranço, remada, reumatismo. E o bacilo de koch continua ativo, letal, ferocíssimo, campeão no Brasil.

A cafetina agora é empresária do sexo. É a sibila ou vestal nesse templo sacrociático (que se estende do sacro ao ísquion). O sacrossanto descamba para o sacrílego, com muitos euros e petrodólares... Em BH temos o Café Tina na badalada Savassi.

As mulheres sempre foram atrizes, mesmo sem talento, sem palco ou platéia. Agora, graças à velocidade das luzes, sons e imagens, sobem à proa dos titaniques sub-urbanos, ganham fama, notoriedade e dólares. Uma tiazinha clareia as madeixas num salão de bairro em VV...

E todas dão shows e oferecem sessões de agitos, faniquitos, caras & bocas.

Neste contexto, a lucidez e a inteligência de uma Maria Adelaide Amaral são desconcertantes, parecem desinseridas. Ou desconectadas, nessa inclusão digital de muitos dáctilos. Nesse país onde tudo parece fora dos eixos, a capacidade e o talento se desfocam, mesmo sob a mira das objetivas. Maturidade é coisa de matuto, jecatatu. A cera Cachopa não é portuguesa, com certeza, mas as caras-de-pau insistem e não perdem a pose.

Eliana, a apresentadora, com seu casamento de princesa que durou um pouco mais que o chantilly da ciscarelli, consta que ficou infestada de piolhos em suas madeixas louras. Dizem que o aplique aplicado nela por seu mega-coiffeur estava cheio de lêndeas. Carolina ferraz diz que zero cal é gostoso e nieligold tem gosto de chocolate. Sua personagem em beleza pura é tão amoral, desonesta, ardilosa, mesquinha e sorrateira que comecei a ficar enojada da atriz. A catarse foi forte demais. Alguns dizem catarze (uau!). A gente tem uma crise de pruritus anii (assim mesmo, com dois is, mas é um palavrão). O esse entre uma vogal e uma consoante não tem som de zê. O zebedeu repete a heresia:"deu zé fiel". Catarse, please!

Derci, centenária, introduziu o palavrão no teatro, na tevê e no cinema. Ari toledo se diz autorizado por ela a fazer shows usando palavras de baixo calão, até mesmo para os representantes do alto escalão. Os escaleres estão em alta, com a leva dos novos piratas...

Mara manzan já desempenhou papéis de tipos tão asquerosos, ladras, preguiçosas, malvadas bruxas, mentirosas, barangas & mocréias, engolidoras-de-espadas e cuspidoras-de -fogo, que parecem um balaio de amargas maçãs podres que nos causam engulhos, só de olhar. Acho que a vida copia a arte. Agora a sub-arte da sub-vida. Sou criticada quando alguém me pergunta se vejo novelas. Sempre prestigiei o trabalho dos autores, escritores, dramaturgos, e o desempenho de atores, atrizes e coadjuvantes. Mas a banalização faz tudo virar pornô-chanchada, a mediocridade nos mostra o buraco sempre mais embaixo, a ponto de virar buraca, bruaca, cloaca. É deprimente e parei de ver essas obscenidades. Já pensou a Bismarca interpretando papéis? Ela mesma é um subproduto, um descarte indescartável, com sua ambição, seu exibicionismo sem medidas. Agora quer refazer a membrana do lado de baixo do equ-ador. Deveria é fazer uma infibulação e cessar sua fábula fabulosa. Essas Fionas, que buscam seus Shreks. Uma ameaça. Um perigo. Pode estar vindo por aí a animação "Os Ogrinhos Serelepes"...

Vila Velha, 21 de abril de 2008.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 29/04/2008
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