O BANCO SOLITÁRIO
Havia um banco vazio no metrô lotado. Não estava sujo, nem quebrado; nem era banco para deficientes ou havia alguém não-praticante de banho sentado ao lado. Era um banco solitário, aguardando ansioso ser utilizado.
- Pode sentar! - disse um rapaz em frente ao banco, estava louco para sentar, mas a moça ao lado era bonita demais para ele cometer essa indelicadeza.
- Obrigada! - agradeceu a moça - Desço na próxima estação.
O flerte no ar foi substituído por uma mulher carregando quatro sacolas querendo sentar-se, mas ela foi impedida por um aviso:
- Ei, dona! Deixa a idosa sentar. - disse um homem próximo da porta.
- Idosa é a sua mãe! - respondeu a velhinha para o homem que queria ajudá-la - Ainda tenho idade para ficar em pé. Não preciso ir sentada.
- Pode sentar, senhora. - disse a mulher das sacolas.
- Não me trate como inválida. - retrucou a velhinha.
- Estou apenas tentando ser gentil, senhora!
- Vai ser gentil com o diabo. Não preciso de gentileza de ninguém.
Uma pequena confusão se formou no vagão. Empurra-empurra, xinga-xinga e o banco continuava desocupado. De repente uma luz no fim do túneo, abriram-se as portas na estação Ana Rosa e entrou uma mulher grávida. Todos deram espaço para ela passar, sentar no banco e acabar com aquela confusão.
- Pode sentar, moça! - disse a velhinha que não queria ser idosa - Para quando é o bebê?
Para surpresa de todos, a moça desatou a chorar.
- Eu estou fazendo regime, ok? - disse entre lágrimas.
Um silêncio constragendor reinou no vagão, enquanto a mulher grávida, ou melhor, a moça acima do peso descera com vergonha na próxima estação.
Paraíso, Vergueiro, São Joaquim e Liberdade. As pessoas foram descendo, outros bancos ficando vazios. Fiquei com pena do banco solitário; já deve ser difícil trabalhar como assento de metrô, agora ser motivo de tanta briga, picuinha e conflito é algo que não deveria estar em seu currículo.
Se ao menos, eu pudesse falar a sua língua, eu diria ao banco, que nós, seres humanos, somos assim mesmo, brigamos por qualquer coisa e fazemos guerra por coisa nenhuma. Seguimos nesses conflitos inúteis que tentam em vão, preencher um certo espaço vazio, que poderia ser preenchido com algo mais produtivo.
Mas o banco já deve estar acostumado com isso. Percebi isso, quando desci na Sé e vi centenas de pessoas entrando pela outra porta, quase pisoteando umas as outras para sentar nos bancos vazios. O banco deve estar rindo ao ver esses adultos, agindo como meninos, brincando a eterna brincadeira do banquinho, onde quem chega primeiro senta e quem fica por último, permanece a viagem inteira desejando que o banquinho fique vazio. O prêmio dessa brincadeira é percebermos que depois de tanta briga para sentar num banquinho, daqui a pouco, ninguém nem vai lembrar mais disso.
Frank Oliveira
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