CONSTRUI UMA CASA DE PRAIA

Naquele ano de 1987 eu estava com muita vontade de construir minha casa de praia. A padaria estava equipada e em condições de aumentar a produção. O que faltava, na realidade, era mais mercado para colocar os produtos e fomentar o crescimento da renda.

Um dia, tomei conhecimento de que nas Vilas da Serra do Mel, próximo a Mossoró, não havia padaria e o consumo de produtos de panificação era muito grande lá. Eram, na época, 25 vilas com os nomes dos estados brasileiros. Resolvi ir um dia fazer uma pesquisa lá. Fiz todo o percurso, visitando várias vilas e voltei a tarde. Realmente era verdadeira aquela informação. Os comerciantes de todas as vilas somente vendiam bolachas. Não havia pães ali. Abria-se assim uma boa perspectiva de negócio.

Era julho daquele ano. Aumentei a produção e fizemos a primeira viagem. Saímos pela manhã, com uma camioneta carregada de pães e bolos. Pretendíamos visitar doze vilas, mas os pães acabaram na metade do percurso. No dia seguinte, voltamos com nova carrada e abastecemos as vilas restantes. Assim intercalamos nossas viagens. Segunda, quarta e sexta, íamos para um setor. Terça, quinta e sábado para o outro. Assim o faturamento aumentou consideravelmente. As vendas eram feitas à vista e não sobrava pães.

Neste ritmo, trabalhamos no período de julho a outubro. Já tinha os recursos suficientes para comprar o material de construção para iniciar a casa de praia. Combinei então com meu cunhado, que ele ficaria fazendo as vendas e iniciei os serviços na praia. A safra de castanhas naquele ano era muito grande. Interessante que grande parte do dinheiro em circulação nas vilas era a própria castanha. Víamos aglomerados de pessoas em frente aos lotes, esperando a passagem do nosso carro. Meninos com cédulas de 100 reais no elástico do calção, querendo comprar nossos produtos. A procura era maior que a oferta.

Meu cunhado saia de manhã com a camioneta carregada de pães e volta a tarde, carregado de castanha. Era lucro certo na ida e na volta, pois já havia compradores que pagavam um bom preço.

Comprei todos os materiais a vista e todos os dias eu ia para a praia e meu cunhado para a serra. Eu aprendera que o olho que mais enxerga é o do dono. Por isso todos os dias eu estava dentro da construção. Como já havia construído antes, muito aprendi. Até elaborei uma planta muito bem bolada, onde pude colocar quatro suítes no projeto. Tributo grande parte deste sucesso a minha esposa que tomou conta da padaria onde trabalhou como uma forte guerreira.

Trabalhei duro naquele período de outubro a janeiro do ano seguinte. Estava pronta a casa. Toda rodeada de alpendres, com janelas arqueadas e quatro suítes. No veraneio de 1988, tínhamos assim uma bela casa de praia. Tempo bom que não volta mais.