José de Anchieta,
            um beato sem túmulo




        Os despojos do beato José de Anchieta, registra o sacrossanto cronista Rubem Braga, "não estão em parte alguma, mas espalhados por Europa, França e Bahia".
        Anchieta nasceu em 19 de março de 1534 e morreu em 9 de junho de 1597, no interior do Espírito Santo. Seu cadáver foi levado para Vitória, e, segundo consta, enterrado na igreja do Colégio de São Tiago.
         Mas, até onde se sabe, pedaços do seu corpo foram posteriormente espalhados: "parte ficou na Bahia, parte em Roma, e parte em Vitória..." Pode uma coisa dessa?
         Não sei se a capital capixaba guarda pelo menos uma lasquinha dos ossos de Anchieta, hoje uma relíquia: ele foi beatificado por João Paulo II, em junho de 1980. 
         Não tenho notícias de que na Bahia, onde ele esteve em 1566, esteja nem que seja um pedacinho da batina do Apóstolo do Brasil. 
         Na Bahia, Achieta foi ordenado sacerdote por dom Pedro Leitão (o segundo bispo do Brasil) e por esse prelado foi chamado de a "pérola da Companhia de Jesus".
         Fora os dados biográficos encontrados em vários livros, só indo a São Paulo para se ter certeza de que Anchieta existiu em carne e osso. 
         Em Sampa, na igrejinha do pátio do Colégio está o fêmur do beato e retalhos de sua batina, bastante surrada.  Como, aliás, ela deve ter sido: vestia um missionário autêntico que, descalço, perambulava, no peito a cruz de Cristo, pelo interior do Brasil, evangelizando os índios . 
         Filho de Tenerife,  espanhol, portanto, Anchieta fez história no Brasil. Por isso é que  aqui que se concentram os esforços, visando sua canonização. E há quem o queira como um santo brasileiro.
         Infelizmente, seus contemporâneos e a Ordem religiosa a que pertenceu lhe não  deram um túmulo intocável e definitivo. Teriam até permitido que andassem distribuindo pedacinhos do seu corpo, pequenino e franzino, pelo mundo afora.
          Bato palmas para os egípcios que preservavam a integridade dos seus cadáveres, ídolos ou não, embalsamando-os. Aí estão as múmias que não me deixam mentir. 
         Diante de tudo isso, continua de pé o irretocável ponto de vista do cronista capixaba Ruben Braga, segundo o qual, "A relíquia verdadeira é o espírito de Anchieta trilhando os caminhos humildes da terra do Brasil, ajudando um país a acontecer. Ainda que mal."
          Não sei quando o Brasil terá seu Panteão onde serão enterrados e velados seus filhos ilustres, legítimos ou adotados, como Anchieta.
          Chega de memoriais e mausoléus luxuosos erguidos para homenagear falsos heróis da pátria; heróis de pés de barro...
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 26/04/2008
Reeditado em 08/10/2020
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