Governabilidade moderna

A governabilidade do Brasil, como a de todos os outros países do mundo, está atualmente muito mais vulnerável às intempéries do sistema financeiro internacional do que no passado. Isso pesa muito além dos partidos políticos e do seu regime. A globalização obriga-nos a sermos doadores do que nos sobra e receptores do que nos falta. A mola dessa motricidade é o dinheiro internacional representado primordialmente ainda pelo dólar americano, mas adocicado na atualidade pelo decimal e crescedor euro.

E se formos apreciar a volatilidade das peças isoladas de compra / venda do sistema monetário internacional, deveremos escorregar na própria volatilidade do comércio das commodities e dos títulos. São por tantas vezes apenas a fumaça de um fogo que não se dá tempo de se ver. Passa rápido, mas deixa um cheiro forte e às vezes um gosto amargo demais de se ter e provar. Tudo na economia mundial caminha às pressas, quase infrenemente mesmo. Acompanhar tudo isso exige perícia e fluidez de idéias fortes.

Bem que já poderíamos ver a nossa economia atrelada não apenas ao dólar americano mas também ao euro, como numa santa divisão de forças. Nossa economia poderia estar menos vulnerável a essas crises como pela que passa hoje o mercado financeiro americano. A Europa bem que poderia passar a ser um divisor de águas mais forte. Afinal, se a América rica geme, a gente tem dor de ouvido forte. A China está aí contrabalançando esse nosso pesadelo de espera, atrelado ao “qualquer dia desse sobrará para nós”. Se faltar alguma coisa a esse gigante asiático, para nós, retrata-se como escassez há tempo.

O mundo nunca foi um todo de tantas partes interdependentes como o é hoje. Creio que nenhum país, por mais socialista que seja seu regime, jamais sobreviverá bem com qualquer isolacionismo a que for submetido. As ilhas do passado não se sustentarão mais alimentando qualquer distância do contexto financeiro internacional. Viver atualmente é dividir receitas e despesas e interagir com equilíbrio e competência. O mundo não é mais o mesmo de ontem. Vejamos a ilha de Fidel que, separada do restante do mundo por um discutível boicote americano, vive envelhecida e pobre. Ainda que tenha o dinheiro, não pode comprar tudo o que deseja.