O homem, a pedra e a bifurcação
O homem, a pedra e a bifurcação
Um homem solitário caminhava por uma estrada estreita de terra batida, vermelha, margeada de mato. Arfava, a poeira grudava no suor que desaguava por todo o corpo. Vinha de longe, já há muito. O brilho forte do sol queimava a íris. O olho nadava no sal. Fechou-o para limpar e de relance viu uma pedra. Agachou-se, pegou-a e a pousou na palma calejada. Sentia a ação da gravidade, embora não soubesse o que era isso. Também não sabia por que a pegara. Seu instinto tinha se manifestado. Estava absorto contemplando-a e só então, ao levantar os olhos para a estrada, notou uma bifurcação e suas possibilidades. Qual caminho a seguir, qual escolha a fazer? Poderia optar por não optar, optando. Olhou novamente a pedra. Ainda a segurava.
Sartre dizia que a vida nos dá a liberdade em forma de uma corda, com a qual enrolamos o nosso pescoço e nos enforcamos conforme as escolhas inevitáveis que fazemos. O tempo todo lidamos com obstáculos “pedras” em nossas vidas e sempre temos que fazer uma escolha: superar o obstáculo e seguir por um caminho; contorná-lo e seguir por outro ou carregá-lo junto, até que o fardo se torne por demais insuportável e aí retomamos as opções anteriores. Nunca sairemos da estrada de nossa vida, até o dia em que ela estará interrompida. Será isso maldição? Ou apenas condição?
Reproduzo um trecho do livro “Cavaleiro Andante”, do escritor português Almeida Faria, que sintetiza, de forma genial, a condição humana: “... contudo os que se vão afogar e insistem em nadar sem saber para onde, contra tudo e todos, contra as ondas, contra marés inelutáveis, contra mares há muito navegados.”