DISCOS VOADORES

Eu acredito em discos voadores. Acredito naqueles que sumiram há uns bons anos, que têm forma de disco mesmo. São prateados e de metal polido. São como 3 pratos empilhados, o de cima gira pra esquerda, o de baixo também e eles sumiram na época do regime militar. No do meio, que não gira, é que ficam os homenzinhos. Não parece lógico?

Às vezes, os homenzinhos vinham com as respectivas no disco, mas depois nunca mais porque na última incursão que fizeram na Barra da Tijuca houve um caso constrangedor, quando uma das mulheres se engraçou pros lados do Arnaldo-pé de pilão que levou uma voadora do marido-tripulante e ficou sem a orelha direita.

No distrito policial, agressor e agredido, foram recolhidos aos Costumes, hoje chamado de xadrez, até a chegada do delegado e o Arnaldo confessou logo, entre outras coisas, que foi ele que roubou a lingüiça do armazém do Joaquim, mas para entenderem porque o homenzinho deu a voadora no Arnaldo tiveram que chamar um intérprete e este foi, nada mais nada menos, que o Dr. Aquino que, há 5 anos estudava comunicação verbal extra-terrestre entre goles de cachaça e, por sorte, o fato era do conhecimento do carcereiro Antônio-ovo mole que naquele dia estava de plantão. Extraordinário como as coisas se encaixaram sem necessidade de correria e do uso de uns bofetes. Depois de liberados, o homenzinho voltou pro disco e o Arnaldo voltou pro boteco, onde seus amigos começaram a chamá-lo de monorelha, apelido que permanece até hoje.

E foi nessa ocasião mesmo que Jean Manzon, fotógrafo da revista O Cruzeiro, comprou 10 dúzias de pratos rasos no Dragão da Rua Larga, botou na conta do Dr. Chateaubriand e partiu pro Recreio que era só mato, areia fininha e um mar limpo de ondas altas.

Manzon deu vinte pratas pro Neguinho da Júlia Mastodonte, que não usava sutiã. Também não usava calcinha, mas isso é outra conversa e de competência exclusiva do Neguinho que lançava os pratos pro alto e Manzon fotografava.

Na semana seguinte a revista vendeu demais e só muitos anos depois que o Jean contou a história dos pratos do Dragão... Mas que as fotos ficaram bonitas, isso ninguém contestou.

Eu acredito em discos voadores, mas naqueles que não deixam dúvidas, discos mesmo... como pratos rasos.

Esclarecimento: escrevi este texto depois que li a crônica DISCOS VOADORES de Rachel de Queiroz.

Elysio Lugarinho Netto
Enviado por Elysio Lugarinho Netto em 24/04/2008
Reeditado em 19/06/2008
Código do texto: T960658
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