COMIDA REQUENTADA

Há um cansaço material que ronda as pessoas.

A sensação que dá é que as elas já não agüentam mais ter que conviver com isso.

A oferta material é muito grande, mas o ser humano é mais do que isso.

Ele é inteligência, coração, vontade, sonhos, transcendência...

Há uma diferença entre o mundo “humano” e o mundo material.

O ser humano tem fome de comida, mas também de beleza de transcendência, de utopia...

As Igrejas de cristãs acabaram oferecendo uma comida requentada para as pessoas.

Elas ficaram presas aos seus símbolos, suas liturgias, suas bases herdadas do mundo europeu.

Não renovaram a linguagem, as suas formas, os seus sonhos, seus sons, suas danças...

Não se reencarnaram nas religiões populares, não valorizaram seus sonhos e seus modos de crer.

O mundo popular usa tudo, a linguagem, o jeito de ser, de comer, de dançar...

As Igrejas cristãs deixaram tudo isso de lado. De modo especial a Igreja Católica.

Essa, ainda impõe o seu rito, sua cultura e sua doutrina sem perdão.

Ainda exclui os pobres e faz caminhada com o mundo mágico dos status e das controvérsias.

No mundo popular, as pessoas acreditam que tudo vai dar certo.

Deus vai ajudar, vamos com coragem, Deus está conosco, não tenhamos medo.

As rezas, as celebrações deles são diferentes, eles não acreditam em Deus, eles sentem a presença de Deus ali no meio. Se a Igreja discorda através da tradição dela, da exegese bíblica dela, isso é de menos.

É nesse mundo religioso que forma-se um sincretismo formidável, onde o negro, o branco, o índio acabam celebrando juntos, a Igreja ainda tenta implantar uma doutrina criticando o que é deles. E eles respeitam a crítica, mas continuam praticando. Pois vêem Deus presente Neles!

Isso acontece aqui no Brasil e eu vejo como algo santo, tremendamente lindo.

A formação católica é mais conservadora do que as outras Igrejas cristãs, ela parece ter medo de encarar o mundo místico das pessoas. Prefere encarar o mundo universitário, tecnológico, implantando computadores, aparelhos sofisticados do mundo consumista e com isso deixa de lado o mundo místico e transcendente das pessoas. Seus ministros são mais homens treinados para falar de Deus e não pessoas treinadas para ouvir o Deus do povo e ajudar esse povo a caminhar para esse Deus da mística e do sincretismo santo.

Hoje, seminaristas, padres, bispos... Tentam se identificar pelo colarinho, pelas roupas, pelo jeito de andar, o modo de usar as mãos enquanto não estão falando com ninguém...

E as cabeças geralmente são conservadoras, voltadas para uma espiritualidade não brasileira.

São pessoas com pouca sensibilidade para com os pobres, para com a justiça social... É comum, por exemplo, padres sendo doutores em filosofia, teologia... Para dar aulas em faculdades particulares ou não, tendo em vista um crescimento financeiro. Eles dizem que não, mas nada demonstra que não.

Quando aprofundamos a espiritualidade da Igreja hoje, vemos que é uma mística voltada para dentro.

Mas graças a Deus, há um outro grupo, por sinal bem menor, que realmente encarna na vida do povo, debatem com a cultura, com os costumes, valorizam as rezas, entram nas periferias, denunciam os estragos ecológicos, etc. Esse pequeno grupo de leigos, padres e bispos que pensam e trabalham assim, podemos dizer que entenderam a mística da Igreja no Brasil. É um grupo que estuda e leva o evangelho à frente dos fatos, e faz uma reflexão a partir da vida e da realidade do povo e não o contrário. Muitas vezes é agredido, jurado de morte por defender uma mística que é a vida real do povo sofrido e marginalizado. O outro grupo não quer viver isso, apenas ter conhecimento de causa, para quando for interrogado por alguém ou for entrevistado pelos meios de comunicação, sair bem como “evangelizador”. E trabalham para que o povo entenda e viva a mística dele. E isso é uma lástima!

A única ala da Igreja que é perseguida e tem seus mártires, é a ala desse pequeno grupo que pensa e vive a fé a partir da realidade do povo que mais precisa de justiça e de paz.

Essa é a minha simples e modesta opinião.

É isso!

Acácio