AS FOFOCAS

Você já reparou que o ser humano é movido a notícias. Todo mundo, sem exceção, gosta da saber das novidades. Quando a gente encontra uma pessoa que há muito não vemos, a primeira pergunta é: - Quais são as novidades? Isso tem a ver com a necessidade de evolução, pois o cotidiano e a mesmice enjoa, logo, sentimos a necessidade de saber coisas novas e de estarmos com a antena ligada para o mundo. Aliás, a nossa busca pelo conhecimento é incessante, pois nasce conosco, já que o próprio bebê é movido pela ansiedades do aprendizado e por isso quando começa a dar seus primeiros passos anda pra todo lado a procura de objetos estranhos, tocando em todos eles, por isso em certas ocasiões se dá mal ao apalpar numa tomada, por exemplo, já que inevitavelmente levará um choque.

Essa curiosidade e a busca pelo novo é normal e intrínseca à natureza humana. No entanto, daí surge o tema que ora vou discorrer, pois além da notícia original que recebemos, temos de ter o senso crítico para podermos absorvê-las de acordo com o nosso grau de entusiasmo e discernimento para transformarmos a notícia em algo ponderável sob o ponto de vista particular. Assim, nosso senso criativo ajuda na “digestão” da notícia, ou seja, ou a encaramos como uma coisa normal do mundo dos outros, não se importando com os seus detalhes (além dos limites da notícia), pois podemos receber a informação que alguém casou, por exemplo. O normal nessa notícia e procurar saber também com quem fulano casou, quando, a origem familiar dos nubentes etc. No entanto, a fofoqueira ou o fofoqueiro não se limita a essas indagações, pois a receptação da notícia transcende a realidade, instalando-se uma opinião formada. Assim, esse tipo de receptor da notícia transforma-a numa outra figura, particularizada e ridicularizada pela sua noção estrábica do fato. Destarte, como a fofoca é algo nocivo para o mundo social, a notícia se transforma em afirmações pejorativas, logo, uma simples notícia de casamento, passa a ser um escândalo, pois o fofoqueiro ou a fofoqueira irá reproduzir a notícia como alvo de desregramento, como por exemplo: - O fulano que casou é mulherengo. - Assim, em pouco tempo estará “ponto chifres” na coitada etc.etc. A pessoa faz um prejulgamento nocivo ao agente da notícia.

Lembro-me que na minha infância, tinha uma vizinha que não se dava bem com minha mãe. Deparei várias vezes com minha mãe comentando que fulana vivia observando o interior de nossa residência, na tentativa de enxergar algum fato que pudesse desabonar a conduta de nossa família. Por várias vezes corria a notícia de que eu tinha apanhado de 'varinha'; que meu pai ficava muito tempo fora de casa e isso poderia ocorrer adultério; que minha mãe era relaxada porque deixava para lavar a louça no outro dia; que eu não estava sendo educado da forma correta; que nosso cardápio diário era coisa de gente 'unha de fome'; que nosso quintal era muito sujo, enfim, a tal vizinha fazia de tudo para achar em nossa família uma brecha pela qual pudesse relatar para os outros, mas sempre com traços de leviandade, nunca vendo algo que pudesse contribuir ou que fosse digno de elogios. Minha mãe tinha razão, pois nada disso ocorria em nosso lar. Na verdade a dita vizinha tinha era ciúme de nossa harmonia e de nossa simplicidade, pois éramos uma família bem relacionada na cidade.

Creio que esse estilo de pessoa é constante no nosso mundo social. Esses guardiões da maldade, sempre estão presentes na empresa onde trabalhamos, na Igreja que freqüentamos, no Colégio que cursamos, nas festas que comparecemos. Ou seja, em todo lugar em que nos relacionamos haverá um fofoqueiro ou uma fofoqueira de plantão. Cuidado!

Uma fofoca pode causar rompimento de relações entre pessoas que se gostam. Pode mudar a história de um País, quando se tratar de um fofoca política, por exemplo, pois o destino de uma Nação depende da relação das pessoas atreladas aos comandos relativos a esse País. Pode gerar discórdias que podem chegar tragédias, como mortes etc. Pode causar terríveis constrangimentos e animosidades que geram inimizades. Enfim, a história tem demonstrado que uma fofoca pode tomar dimensões extremas e capazes de ferir com profundidade o ser humano.

As pessoas de bem e que não comungam com esse tipo de comportamento devem aprender a viver com essa realidade, já que ela existe e é inevitável. A melhor forma de enfrentar essa questão é conhecer, em primeiro lugar, a fonte da notícia ou da fofoca. Se não for possível, paciência e calma. Ficar com o 'pé atrás' quando uma pessoa conhecida por essa estirpe, lhe dê alguma notícia. Não acreditar em qualquer coisa ou em quaquer notícia que circule sem uma fonte fidedigna. Sempre observar a dimensão da notícia, fazendo ponderações reais sobre o fato e sobre a pessoa envolvida na notícia, mensurando o mérito de quem se vê vítima de algum episódio dessa natureza. E o principal, fazer a checagem dos fatos, antes de crucificar alguém vitima de fofoca.

Aos fofoqueiros ou às fofoqueiras cabe as fofocas, a quem as recebe cabe até uma censura quando a pessoa não lhe aponta com certeza os fatos que expõe. Temos de obrigar que as pessoas digam as coisas e a sustentem com fundamentação. Do contrário, estaremos contribuindo para que essa 'classe de pessoas' continue a causar desarmonia no nosso meio social.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 24/04/2008
Reeditado em 24/04/2008
Código do texto: T959882