Rezas e orações
“Pois há rezas e orações que são ofensas. É óbvio: se vou lá, bater às portas de Deus, pedindo que ele tenha dó de alguém, eu lhe estou imputando duas imperfeições que, se fosse comigo, me deixariam muito bravo. Primeiro, estou dizendo que não acredito no amor dele, deve ser meio fraquinho, sem iniciativa, preguiçoso, à espera do meu cutucão. Se eu não der a minha cutucada, Deus não se mexe. E isso não é coisa de ofender Deus? Segundo, estou sugerindo que Ele deve andar meio esquecido, desmemoriado, necessitado de um secretário que lhe lembre suas obrigações. E trato de, diariamente, apresentar-lhe a sua agenda de trabalho. Mas está lá nos salmos e nos evangelhos que Deus sabe tudo antes que a gente fale qualquer coisa. Ora, se a gente fica no falatório é porque não acredita nisso. Não acredito em oração em que a gente fala e Deus escuta. Acredito mesmo é na oração em que a gente fica quieto para ouvir a voz que se faz ouvir no meio do silêncio.” (Rubem Alves).
Gosto da Clarice Lispector quando diz que “o silêncio é mais profundo que as palavras pronunciadas”. Falamos demais de Deus, falamos demais com Deus e no final das contas não falamos nada, porque Deus é mistério. Como compreender Alguém Incompreensível?
Mas eu creio na oração, nas rezas … quando elas são feitas no silêncio. Quando nos falta palavras ao falar com Deus, então nesse momento estamos rezando/orando. Foi isso que Paulo certamente quis dizer “Não sabemos orar como convém, mas o próprio Espírito suplica por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26).
O que falamos de Deus é mais mentira que verdade … e o que pedimos é mais uma forma de usá-lo do que uma submissão. A vida está ai, acontecendo. Ou aceitamos que tudo ocorre com a permissão de Deus, ou aceitamos que a vida ocorre de forma aleatória e Deus interfere.
Seja como for … o silêncio diante do mistério da vida, o mistério divino … Deus, ainda é a melhor oração!