TROPEÇANDO NA REALIDADE
Hoje quando vinha do trabalho para casa assustei-me. Foi como tivesse adormecido e repentinamente levado um encontrão e estremecido por dentro. Percebí, pela primeira vez, o movimento desenfreado dos veículos andando apressados em diversas direções, com frenético buzinar, piscar de luzes e lanternas. Sempre passei por este cruzamento de ruas, há anos, mas nunca havia percebido o que alí acontecia. Hoje, porém, fiquei espantado com a realidade presenciada. Passamos nossas vidas, muitas vezes, andando nos mesmos lugares, mas nunca percebemos que o crescimento é constante, as transformações são presentes e com isso o movimento aumenta até não nos permitir mais ignorá-los. Tudo ocorre de forma mecânica e o nosso pensamento está tão distante que mal enxergamos o cotidiano. Confesso que tive um susto, como nunca, porque a dinâmica da vida se concretizou e assim me condicionou a registrá-la. Foi como se a imagem que eu tinha daquele lugar fosse tão antiga que a atual ficou irreconhecível. Neste momento até cheguei a pensar se estava, realmente, alí. Durante muito tempo cruzei por este mesmo caminho, mas passei por cima da realidade, e hoje nela tropecei e assistí com felicidade o quanto minha cidade cresceu. Este crescimento poderá trazer consequências, até mesmo desastrosas, mas é o preço que pagaremos pela facilidade que se tem instalado. Cansei de passar e nada perceber, mas hoje, tropecei na realidade.
Publicado no jornal Diário da Manhã na coluna Tribuna do Povo em 05/05/2008 - Pelotas/Rs