Crônica danada de crua
Edson Gonçalves Ferreira
A classe média brasileira morreu. A elite mais cruel do mundo é a nossa. Dizem que, na Itália, existem mafiosos. E no Brasil existe o quê? Como falar em Educação para quem ganha apenas um salário-mínimo para alimentar a família, pagar aluguel, comprar comida, pagar médicos? E dizem que salário-mínimo é a mínima contra-prestação devida e paga a qualquer trabalhador de modo a satisfazer as suas necessidades primárias. Será que cuidar da saúde não é necessidade primária?
Às vezes, fico me perguntando se alguns políticos não pensam no que os seus eleitores pensam, por exemplo, ao saber que têm uma verba de 60 mil reais para pagar seus assessores. Pego a calculadora e calculo. Se cada assessor ganhasse um salário, eles podem contratar 249 assessores e, fica fácil fazer a conversão, se pagassem como se paga a um professor, o salário de 850 reais, eles poderiam pagar 70 assessores. _ Será que precisam de tantos assessores assim! Ah, não estou inventando nada, vi na televisão que eles ganham essa verba. Se alguém está mentindo é a televisão.
O discurso de nós, professores, fica até vazio quando, por exemplo, queremos incentivar a moçada a estudar. Todo mundo sabe que, para ser professor, você tem que passar pelo Ensino Fundamental (09 anos), Ensino Médio (03 anos), Curso Superior (04 anos), Pós-Graduação (02 anos), Mestrado (02 anos) pelo menos. Daí, faz-se um curso e, então, recebe-se 850 reais mensais, pode? Assim, eles sonham com tudo, menos em ser professor. Jogador de futebol, artista de cinema e existe outro caminho sinuoso do qual nem quero falar, porque, afinal de contas, sou professor, com orgulho!
Sou professor e poeta, mas não tenho nada de bobo. Piso no chão e já estou ouvindo Lulu Santos cantando: “Garoto, eu vou pra Califórnia, viver a vida sobre as ondas, vou ser artista de cinema, o meu destino é ser star...” Existem sonhos mais rentáveis que invadem a cabeça da moçada. Parabenizo o Ministério da Educação por alguns projetos, mas são paliativos. Não adianta inventarem Olimpíada de Matemática, de Português, enquanto não agirem para remunerar condignamente quem forma os cidadãos deste país.
Entra governo e sai governo, escândalos pipocam e, depois, viram piruá e nosso povo, com a memória curta, se esquece de tudo. Vou acabar mandando o poema Pátria, de Olavo Bilac para alguns políticos lerem. Quem sabe o sentimento do verdadeiro patriotismo acordará neles. É claro que existem homens de boa vontade até entre eles, mas é preciso pegar aquela agulha que existe no Evangelho, procurar uma agulha no palheiro para achá-los, vocês não concordam?
É difícil viver num país onde pagamos impostos, taxas e mais taxas e pouco investimento temos de volta seja em qualquer área. Depois que escrevi tudo o que, nesta quarta-feira, estava me incomodando, fico mais sossegado. Agora, sossegarei mesmo, só quando tivermos uma política educacional que seja verdadeira e comece valorizando o professor, o homem do campo, o trabalhador braçal. Sim, valorize primeiro o trabalhador. Afinal, todas as profissões são dignas. Em todas existem pessoas do Bem e do Mal, agora, não me venham com desculpas esfarrapadas, porque ninguém me convence de que alguns políticos não ganham salário de marajá comparado aos demais salários de outros profissionais, começando pelo professor. _ Ganham, ou não ganham?
Divinópolis, 23.04.08