POEMA
Eu queria compor um poema, mas que fosse algo diferente com inspiração vinda do fundo d’alma. Um poema que tocasse o coração de quem lesse, despertando diferentes emoções. Comecei a pensar. Voei imaginariamente em busca de tal inspiração, mas a danadinha não se fazia presente no ângulo de percepção do meu intelecto. Voltei à estaca zero. Pensei sobre o poema, e decidi que deveria ter a magia do astro rei quando desponta no horizonte despertando o mundo, deixando sua luz espargir em todos os recantos da terra, e mansamente transmitindo aos seres viventes toda energia necessária para mais um dia na história da humanidade. Aproveitar também a bucólica cena do seu ocaso, fonte de tantas inspirações, quando retrai sua intensa luminosidade, para a vinda da lua, e retirar-se cheio de mesuras para a sua amada reinar à noite. O mundo neste período é todinho dela. Estes dois momentos certamente nos fartam de inspiração para um belo poema. Mas eu queria mais reservas sentimentais. Queria a paz que revela um pequeno regato de águas cristalinas correndo preguiçosamente entre pedras, paus, plantas, em sua rota sinuosa. Você já reparou que ao sentarmos defronte a um regato assim, o pensamento voa, o espírito fica leve, a quietude nos acalma, relaxa e nos revigora. Este é um dos verdadeiros remédios para a alma da gente. Mas meu poema teria que ter outro ingrediente, o toque do amor milenar declarado diariamente nos beijos das águas do mar nas "calientes" areias da praia, seu abraço torrente, num vai e vem sistemático, e ela toda faceira não se faz de rogada, aceita contente as carícias de seu parceiro eterno, que mesmo nos dias de mau humor não deixa de beijá-la, com mais voracidade, é verdade, mas está sempre presente. Mas o meu poema deveria conter a beleza mortal da estranha força de um raio caindo na terra, descarregando em gozo supremo sua fúria elétrica, energizando o chão que pisamos, e que a sábia Mãe Terra nos devolve em minúsculas doses. Eu queria tanto escrever um poema diferente, porém não consigo sair da concepção, mas um dia hei de escrever, hoje já me cansei em ver o sol nascer, assistir seu poente, ver a lua surgir linda, correr nas matas atrás de regatos preguiçosos, sentir o bem das ondas do mar acariciando as areias da praia, e fugir da fúria do raio a cair.
Amanhã, isso amanhã! Talvez a inspiração venha.
A. JORGE
23/04/2008