A CAMINHO DAS ESTRELAS

Iniciei essa crônica ao comentar no Overmundo o poema de Rubênio Marcelo, intitulado “ Os Loucos”.

Há poucas horas atrás eu lia na Internet sobre a intenção de construírem uma base na Lua para que o homem pudesse permanecer por lá seis meses. Na taurina-gigante-vermelha Aldebarã culminou o que me ia pela cabeça ao ler aquela poesia, onde na "loucura" da pineal, dos ciclos cicardianos, "braços da fantasia, não têm noite nem dia" , a antena louca da epífise, arregalaria o "terceiro olho" e empreenderia viagens siderais.

Colo então as peças do dominó. Só os loucos viajam nesses espaços - oh! animaizinhos pretensiosos nós somos! - 65 anos-luz da Terra!!! - viagens sem retorno.

Já houve tempo em que questionei essas façanhas da conquista espacial: - loucura gastar tanto dinheiro com os foguetes, os satélites, os centros de lançamento e tudo o mais!

Depois compreendi que esse dinheiro não era gasto. De tudo, o planeta Terra perdia apenas o valor de algumas toneladas de materiais que escapariam à órbita terrestre, e esse sim, a humanidade não recuperaria.

No fluxo econômico e financeiro, o dinheiro apenas muda de mãos - é uma forma de distribuição de renda e de remuneração do trabalho, de manter a economia funcionando. Milhares de pessoas vivendo diretamente desses proventos, nas fábricas, nas escolas, nos centros de treinamento, nas indústrias, nos centros de pesquisa, e indiretamente em qualquer atividade supridora de materiais, bens ou serviços, mobilizada para alcançar os objetivos do empreendimento.

Que benefícios (indiretos??) estariam sendo obtidos com os programas espaciais para justificar tais aplicações de recursos? E me respondo: desenvolvimento da ciência e da engenharia, da eletrônica, dos combustíveis, dos materiais, da medicina (espacial?), e milhares de novas conquistas tecnológicas que se incorporam a outros produtos, e que na nossa fome consumista utilizamos em nosso dia-a-dia: - foguetes, eletrodomésticos, aviões, automóveis, celulares, GPS´s, robôs, equipamentos médicos e cirúrgicos, computadores e toda a quinquilharia dos apetrechos da modernidade.

Seriam esses os reais objetivos, e seriam mais que suficientes para se construir um diferencial de hegemonia (entre os povos) e criar a imagem do "super-homem" imbatível, capaz de ataques com precisão cirúrgica sobre alvos tão comezinhos como quartéis, batalhões, residências, indústrias, navios, pontes ou estradas.

Seriam esses e por isso mesmo, "os loucos"(?!) que administram tão bem os seus negócios e que sob a égide da "flâmula sideral" imobilizam os rebeldes, os críticos, os místicos e os crédulos com objetivos tão inocentes através dos quais dominam toda a humanidade.

Nada obtém mais aceitação e o beneplácito dos homens que a pesquisa espacial - que nos sacia a curiosidade e mitiga nossos sonhos de "homem-Deus".

Pelos benefícios indiretos para a humanidade concordamos que sejam trilhados esses caminhos.

Pela potencialidade dos malefícios urge que se desenvolva uma "ética" para a exploração do espaço. Que o homem não despreze e nem degrade a Terra, único habitat da Humanidade no Universo, e que ninguém se sobreponha aos seus irmãos por ser capaz de alçar vôos siderais.

No máximo conseguiremos deslocar para a Lua ou Marte um pedaço ínfimo da Terra que garanta as condições físicas para a sobrevivência extraterrestre de pouquíssimos homens, e esses sim, de fato lá enlouqueceriam, pela exigüidade dos espaços, pelo confinamento, pela artificialidade do ambiente, da sociedade e dos recursos.

Não seria a Humanidade que estaria se deslocando para a Lua, mas sim transportando um pedaço da Terra que reproduza as condições de habitação do homem...na Lua.

As limitações são físicas (temperaturas, pressões, gravidade, eletromagnetismo, espaço e tempo), bioquímicas (composição das atmosferas, toxidade, metabolismos) e as mutações genéticas que permitiriam a readaptação do homem a condições diferentes e severas demandariam milhões de anos!... Aqui sim, esbarram as pretensões do "homem-Deus"- suas asas de cera são as próprias limitações físicas e as características do Homem e do Universo.

Não se trataria de resolver os problemas que aparecessem como se deu nas Grandes Navegações, quando o Mar Tenebroso assustava tanto com seus monstros desconhecidos ou criados para que nenhum aventureiro invadisse o que já se sabia existir.

Seria necessário fazer do homem outro homem e/ou fazer do Universo outro universo com leis físicas diferentes.

Aqui, penso que há na Terra vazios inumanos tais como os Pólos geográficos, as altas montanhas, os grandes desertos, as profundezas dos oceanos, as selvas tropicais. E me pergunto: por que o homem ainda não ocupou esses espaços muito menos inóspitos que qualquer satélite natural ou planeta? E que condições teríamos para empreender viagens e ocupar espaços que apresentam condições ambientais totalmente adversas?

Quanto aos programas e às pesquisas espaciais, são equivalentes em poder mobilizador de vontades, vetor de orientação de ações, às grandes jornadas da humanidade em seu périplo pelo planeta Terra. O homem construiu pirâmides, marchou para o oeste, descobriu todos os continentes, ilhas, montanhas e desertos, fez voar o avião, construiu submarinos, empreendeu guerras. Todas essas etapas alinharam e aglutinaram as vontades, a economia e o psiquismo humanos.

O Rei, na Cidadela de Antoine Saint Exupéry, nos disse mais ou menos assim: “se eu quiser que os homens do meu Império saiam para o mar, não lhes ensinarei como navegar ou construir navios – criarei neles a vontade de sair para o mar” – dessa vez acho que o Rei terá que nos ensinar. E aqui fico imaginando o que aconteceu ao ET de Varginha e que loucos o embarcaram para Minas...