Angel-Uma vida que não é minha

As vozes sempre dizem pouca coisa otimista. E por isso mesmo, é que ignoro a todas as suas tentativas de induzir-me a estas ou aquelas coisas. E por muitas vezes, foi por ignorá-las que não perfurei meu crânio com uma bala de 38.

Por toda a minha vida, atirada em banheiros públicos e sexo barato, os cheiros da podridão me acompanham, e nem nos lugares prováveis, alguma erva, por mais óbvia que seja, brota.No cigarro, busco uma maneira de disfarçar o inevitável odor do inferno, porque quem tem as mãos sujas de sangue, estará eternamente fadado a não perceber outros perfumes.

E foi assim que segurando um cigarro em uma das mãos, uma maleta com algum dinheiro em outro, que tive de fazer uma escolha na vida.

A estação central vazia, eu encurralado, procurando não olhar dentro dos olhos do que me perseguia e a eterna sensação do inevitável.

Uma das mão atira o cigarro longe e saca da arma. Esta, cambaleante, não enxerga nenhum alvo à frente. Até que o sopro que vem de alguma boca desconhecita, pronuncia bem próximo ao ouvido:

-Somos irmãos. Você não tem escolha. Há coisas difíceis de se desvencilhar.

-Há sempre uma escolha.

E alí estava eu, sentindo que algo deveria ser feito, para eu continuar o meu caminho.

Um beijo ou um tiro. Ou a eterna impassibilidades...

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 22/04/2008
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