Imitador

Acabo de ver no Leia Livro, uma seção literária da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, para onde envio somente contos e crônicas, o comentário de um leitor dizendo que eu imito Nelson Rodrigues...

Quem me dera ter o talento do velho Nelson! Que foi, inclusive, nosso maior teatrólogo, além de cronista invejável e jornalista de extrema experiência.

É verdade que gosto de imitar certos autores famosos, quando me dá na veneta. Imito Nelson, Sérgio Porto, Jorge Amado e João Ubaldo. Mas mal, muito mal! Ah! João Saldanha. Não posso esquecer o magricela de voz grave e destemperado gênio. Saldanha era muito brigão.

Este fato de escrever traz sempre comparações inevitáveis, se quem escreve está sempre lendo. Lembro que no colégio lia diariamente na “Última Hora”, de Samuel Wainer, os famosos textos de Nelson Rodrigues, “A vida como ela é.” São antológicos; quem não os conhece deve procurar ler, pois foram reeditados, preenchendo uma lacuna que existia na memória nacional.

Tão bom era ele que a sua “À sombra das chuteiras imortais”, esta sobre futebol e publicada no “Globo” passou a ser leitura de intelectuais da época, que pouco entendiam ou até mesmo não gostavam de futebol.

Sérgio Porto, o famoso Stanislaw Ponte Preta, com suas personagens famosas, a maior delas a Tia Zulmira, a terrível gozação que fazia com Niterói – “Niterói é terra onde galinha cisca para frente e urubu voa de costas” – só era perdoada pelos niteroienses porque ele morou aqui alguns anos.

Publicava todo final de ano a lista das “Dez mais certinhas”, onde apareciam as mulheres mais bonitas e certinhas do ano. Mulher que saísse nesta lista estava feita! Eram quase todas atrizes, não me lembro de exceção.

Jorge Amado e João Ubaldo, além de diferentes entre si, pouco ou nada têm em comum com os dois gozadores citados. Ou melhor, talvez tenham. A profunda irreverência.

Ler Hemingway. O maior escritor do século XX, e talvez comparado a Shakespeare, só o tempo vai dizer, foi um profundo conhecedor da alma humana. “O Velho e o Mar” é obra não suplantada por nenhuma outra.

Qual a razão de estar escrevendo tudo isto? Não sei não. Deu na telha!