O Lixo Espacial de Cada Dia

            E eis que do céu caiu uma bola de fogo flamejante...

            Poderia ser a introdução de mais uma obra de ficção, mas não, aconteceu de fato na pequena Montevidiu, Goiás, que graças ao nosso lixo espacial, foi introduzida no mapa nacional.

De início foi uma reportagem alardeando o mistério: ¨esfera cai do espaço¨. Entusiastas à cata de mundos alienígenas se entusiasmaram: ¨não estamos sós¨.

            Com o correr dos dias a esfera foi perdendo o encanto. Descobriram que não era radioativa, que não viera de outro mundo, era apenas uma parte de um tanque de combustível de algum satélite.

            Ninguém vibraria de entusiasmo diante do tanque de combustível de um automóvel. A esfera virou lixo. E esse é o ponto. Circundam a Terra milhares de pequenas e grandes peças que um dia foram tecnologia de ponta. Dançam sobre as nossas cabeças esperando o crucial momento em que, seguindo uma ordem aleatória, desmoronarão em busca da segurança do mar ou da dureza do solo.

            Os cientistas afirmam que a maioria se desintegrará na reentrada e outro tanto cairá no mar. As que preocupam são as que cairão em terra firme.

            Não bastava os rios e mares, o solo e a devastação das florestas, sujamos também os céus. Será que um dia não poderemos mais enxergar as estrelas? A iluminação das cidades, somada à poluição atmosférica e ao acúmulo do lixo, irá nos afastar daquele brilho de bilhões de anos. As poesias terão que ser reescritas.

            Dificilmente um pedaço desses irá destruir o mundo, como o meteoro do apocalipse. Estragos serão localizados e pontuais, caso venham a ocorrer.

            Não dá para bombardear os objetos com mísseis, seria caro demais. Muito mais caro que o preço de uma vida que talvez se perca.

            Reunir os objetos através de uma atração magnética é quase impossível. Criar uma nave de limpeza é dispendioso.

            Deveremos conviver com nosso lixo, como se convive com uma doença incurável. Rezaremos para que essa não evolua e cause maiores danos.

            O homem continuará sua saga, inventando, criando e poluindo o planeta em que vive, sem saber ao certo até quando ele suportará tamanho descaso.

            Espero que as gerações futuras sejam mais inteligentes, que respeitem o planeta e que novas tecnologias surjam, visando corrigir os danos que temos causado.

            Enquanto esperamos, observemos as estrelas, antes que sumam, por nossa conta, das nossas vistas...