Amando o amado, hoje!

“Le coeur as raisons qui la propre raison ne connais pas.”

Blaise Pascal

Gosto demais de uma poetiza, para mim é maravilhosa e uma das melhores, talvez ela ainda seja desconhecida de vocês, mas que merece ser lida. Chama-se Gilvânia Guimarães, pseudônimo Gita Habiba, natural de Guarulhos – SP (Ela está aqui no recanto). Lendo uma de suas poesias de nome: “Eu sei que te amo”, escontro em suas palavras a ambiguidade do amor. E penso que isso seja coisa sadia, pois o amor programado seria como saber o dia da nossa morte, nos levaria ao desespero. Vida boa e amor gostoso é aquele sem a preocupação do dia e de sua duração, como canta Vinícius de Moraes “que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.”.

Amor imortal é um amor doente, ilusório. É como eternidade, é só desejo(mas desejo é bom), amor forte é o amor infinito, mas não infinito sem fim, mas um infinito que mesmo que seja rápido, se torne inesquecível. Bem, se criou confusão essas palavras, então que o amor não seja infinito, mas que seja inesquecivel, e por isso sem fim. Não vou me preocupar se ao falar me envolva em mero circulo de palavras, amar é estar sempre andando e retornando ao mesmo lugar.

Mas o amor é algo que se alimenta no momento. Se feijão fosse como o amor, não daria para colocar na geladeira para se alimentar amanhã. Amor enche a barriga é hoje. Mas não percebemos isso, então fazemos juras eternas de amor. Eu mesmo faço um monte, mas nem adianta, se eu não amar hoje, o que farei amanha pouco importa. Nem terei chance futuras se não corresponder no presente.

Juras de amor são apenas a nossa vontade de que tudo seja para sempre, porque são momentos bons. Mas... nem tudo é sempre bom, concorda? Por isso há casamento e separação. No amor dizemos: Vem cá meu bem! Na separação: Me dá meus bens! Não somos cativos pelas juras do amor.

Por isso as razões do coração são perigosas, onde há paixão há a ausência do juizo. Mas nem sempre juízo é necessário, ainda que seja importante.

Mas vamos à poesia da Gita Habiba, que começa assim:

"Eu sei que te amo,

Porque na minha significante solidão

O insignificante é não pensar em você."

O que é o pensamento? Pensamento é coisa que está e não está, é coisa que é e que não é. É como fumaça que logo se dissipa, como diz o ditado, “amor é igual a fumaça, sufoca mais passa”. Não podemos jurar pensamento eterno ao amado, enquanto houver a presença haverá o pensamento. Assim, retirando as razões do coração podemos afirmar: “Eu sei que te amo, enquanto pensar em você”. Hoje pensamos, amanha esquecemos do pensado. E nos dias que não tivermos tempo para pensar? Mas amar é isso ai, amar o momento em que se pensa e pensar que esse momento é o momento ideal.

Continuando a poesia...

"Sei que te amo,

Por causa da minha consequente saudades

O inconsequente é ficar sem sentir você."

Ninguem sente saudades para sempre. Mas saudades é bom, como diz um poeta latino chamado Aurélio Propércio, “A ausência torna o coração mais amante”. Por isso foi bom ter usado a palavra conseguente, pois a conseguencia de quem ama é sentir saudades, pois essa habita no coração do amante. Mas tudo isso também passa. A saudade passa, ou quando os amores se encontram, ou quando ao amores se separam. Então tudo é hoje, é hoje que sentimos as conseguencias do amor, que é a saudade, pois amanha o re-encontro não é certeza. Se eu amo, não amo nunca para sempre, como poetizou Mário Quintana “para sempre é muito tempo. O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...”, e o hoje é o momento eterno do amor.

Finalizando a poesia:

"Eu sei que te amo,

Porque na minha inscontância carência

O constante é ter você... em mim!"

Essa tal inconstância carência ... O ser humano é por natureza carente. E o pior de tudo, carente de si mesmo. Por essa carência perdemos a cabeça e nos lançamos cegamente, são as razões do coração de Pascal. Mas carência traz depêndencia e por isso amamos. Amar é depender do outro, amamos aqueles de quem dependemos. Mas carência eterna é doença, se o amor dura enquanto durar a carência que dure somente hoje, pois carência machuca. E como a Gita diz nesse último trecho: O constante é ter voce.. em mim!, me dá a impressão de que essa constância de ter voce ... em mim dure enquanto durar a carência. Mas como foi dito, carência não dura para sempre.

Chego pois a conclusão, que todas as juras de amor são irresponsabilidades, precipitação, são perigosas, pois amor gostoso é o amor do dia.

E a poetisa viveu esse amor em 2006, quantos amores não já foram vividos e quantos ainda haveram de ser ? Que se viva quantos amores forem possíveis e necessários... que se morra de amor quantas vez se puder morrer. Ou que ame apenas uma pessoa intensamente a cada dia, é gostoso amar uma única pessoa várias vezes, a cada novo dia uma nova forma de amar.

E termino com um pedido: Não me ame amanhã melhor do que hoje, quero ser amado da melhor forma hoje, se o amanhã existir a gente conversa sobre isso, amanhã.

Wagner Martins
Enviado por Wagner Martins em 22/04/2008
Reeditado em 22/04/2008
Código do texto: T956604