A liberdade das palavras
Bem dizia a poeta Clarice Lispector que “as palavras não são coisas, são espírito”, e de fato concordo. Coisas são “coisas” que a gente pode tocar, definir, ser claro. Uma árvore é uma árvore em qualquer lugar, muda-se a palavra (Tree – inglês, Arbre – Francês), mas em todos os lugares do mundo uma árvore é o que é. Uma coisa não tem dois sentidos, uma mesa é mesa e ponto final.
Ocorre o contrário com o espírito, como bem mostra a passagem bíblica, “O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem e nem para onde vai...” (Jo 3,8). Espírito é algo que não se toca, não se define, espírito pode ter vários sentidos, sendo até negado sua existência.
Penso que escolhi um bom nome para o livro, ainda mais com o complemento “soltas”, pois palavras não podem estar presas, não podem ter donos. Deve ser por esse motivo que o Rubem Alves poetizou nos mostrando que “todas as palavras tomadas literalmente são falsas” e de fato são. Palavras tem o sentido que a pessoa que ouve dar. Foi essa idéia que Nietzsche expressou no seu livro “Humano, demasiado Humano” quando escreveu que “Os pretensos paradoxos do autor, com os quais um leitor se choca, muitas vezes não estão nos livros do autor, mas na cabeça do leitor.” (Aforismo 185). As palavras saem da boca com um sentindo e chegam ao ouvido de outra pessoa muitas vezes de forma contrária (não errada).
Deve-se tomar cuidado com os literalismos, que é a mesma coisa que o fundamentalismo, e ambas são a triste arte de transformar os espíritos livres em coisas. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, mas as palavras que são como ventos, não são nem uma coisa nem outra.
Aqui não vamos falar de coisas, mas de palavras. Então que elas saiam da minha mente de uma forma e chegue na sua da forma que você quiser, pois você é como as palavras, soltas!