DE NOVO, NUMA FILA DE BANCO .

 

   E de novo final de mês, agência cheia , ar-condicionado enguiçado e uma fila quilométrica. Já tendo uma enorme experiência em filas (quem não tem ?), entrei na agência firmemente decidido a tirar o máximo proveito do tempo que ali permaneceria padecendo.

   Apurei os ouvidos e observei atentamente as pessoas para destacar alguém ou alguma conversa que me interessasse. Era minha receita para que o tempo passasse mais rápido além de, quem sabe, me inspirar a escrever as habituais tolices .

   Estava tudo muito confuso, pois todos falavam e vários reclamavam ao mesmo tempo. A maioria das pessoas quando estão impacientes ou estão fazendo alguma coisa contra a vontade têm o hábito de falar aos gritos.

   Inicialmente chamou minha atenção uma jovem de cabelos pretos encaracolados, rosto com feições finas mas gorda aliás, bem gorda. O que mais me impressionou não foi o fato daquela jovem , até bonita, ser bem gordinha mas sim porque naquela fila e sem nenhuma cerimônia, ela destruía (não estou exagerando, ela estava realmente destruindo) um daqueles sanduíches de dois andares do Mac Donalds, acompanhado de um copo duplo de refrigerante.

   Não preciso dizer que fazia um extraordinário malabarismo para não deixar cair mais maionese no seu avantajado decote. De fato tem gente que não está nem aí para a opinião dos outros. Sinceramente, era a primeira vez que eu via um decote recheado de maionese.

   Mais à frente uma outra jovem, alta e elegante, retocava a exagerada maquiagem. Passou cuidadosamente o baton olhando um pequeno espelho que segurava com a mão direita. Não estava nem um pouco preocupada com o que estava acontecendo ao seu redor.

   Não satisfeita e como estivesse se preparando para desfilar numa passarela, tirou um pequeno lencinho de papel da bolsa, limpou os lábios cuidadosamente e recomeçou o ritual de passar o baton mais uma vez. Em seguida guardou o estojinho daquele baton e tirou uma pequena esponja de um estojo preto e passou sobre as faces algo que de longe parecia um pó branco. Guardou o estojo, segurou firmemente o espelho e em seguida passou uma espécie de pincel sobre os cílios.

   Apertou novamente os lábios, fez um auto-exame de cima para baixo e satisfeita, guardou tudo e se empinou, aguardando sua vez de ser atendido pelo caixa. Aí é que eu entendi o motivo de tanto capricho.

   Um dos caixas era muito parecido com o Robert Redford, aquele famoso artista de cinema. Tenho certeza de que aquela jovem faria o possível para não ser chamada por outro caixa. Vá se entender certas mulheres !

   Mas não foram só elas que me despertaram a atenção. Bem no inicio da fila tinha um senhor de cabelos brancos e que aparentava ter quase setenta anos. Distraidamente ele simplesmente estava tirando cera dos ouvidos com um palito de fósforo . Limpou cuidadosamente de um lado e depois abriu a caixa de fósforos, pegou outro palito e limpou o outro ouvido, dando a impressão de que se sentia só e absolutamente à vontade, sem se preocupar em absoluto com o burburinho que acontecia a sua volta.

   E eu pensei que já tinha visto de tudo mas francamente, limpar os ouvidos com palitos de fósforo e numa fila de banco, é algo realmente incrível.

   Naquela tarde, quem sabe favorecido pelos deuses da impaciência a fila andou muito mais rápido do que de costume e logo, logo chegou minha vez de ser atendido e quis o destino que eu fosse chamado exatamente pelo caixa que se parecia com o Robert Redford.

   De fato o tal sujeito era o que as meninas assanhadas chamam de tipo bonitão. Entretanto, sua maneira de falar, seus trejeitos e a absoluta indiferença com que ele olhava para as mulheres, certamente trazia enorme decepção a muitas delas.

   Paguei a conta que tinha que ser paga, conferi o troco e olhei para o lado, lamentando profundamente não ter sido atendido pela estonteante morena que estava no caixa ao lado. Coisas de filas de banco....

 

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NOTA EXPLICATIVA : só para tranquilizar minha meia dúzia de leitores, gostaria de informar que quando entro numa agência bancária minha única intensão é pagar o que tem que ser pago e sair de lá o mais rápido possível. Não fico escolhendo caixas mas é evidente que entre a morena estonteante e o Robert Redford, logicamente que eu prefiro sempre ser atendido pela morena estonteante, com todo o respeito.....




(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 21/04/2008
Reeditado em 13/01/2013
Código do texto: T956252
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