Depois então...
O depois era uma coisa sempre presente, controladora, antes de tudo até... e deixava no ar um quê de tristeza sobre um rosto de um rubor esmaecido desde o tempo das primeiras lágrimas, onde tudo se movia lento e tudo era um corpo só em mãos enlaçadas girando ao redor.
E era uma vez, a vez de dizer o verso bem bonito, dar adeus e ir embora.
Mas o pensamento tão distante levava a voz prá outros cantos, e como se antecipasse o vento, já era nuvem sobre um caminho cheio de curvas, túneis, atalhos, cancelas, canseiras. Seguir o depois cansava e provocava uma dor passageira a viajar no corpo pela vida inteira.
Mas na tristeza olhava prá lua e enxergava no escuro a grandeza da noite, e antes que a madrugada viesse pisar sobre as pálpebras seus pés de anjo, pensava, pensava, pensava muito e, quando quase se formava, esmorecia. Porque era tão fraca a força no braço prá puxar essa corda, dar esse laço. Havia um embaraço no ponto exato em que os dedos tocavam o desconhecido.
As mãos formigavam na possibilidade do depois, o inevitável.
Então apelava prá tristeza mansa e fechava os olhos entregando a trilha.
Porque pensava que era na noite que eles acordavam prá trilhar o depois, tramando em silêncio no silêncio do canto, da última lágrima, no abandono da nuvem seguindo no escuro até que tudo ficasse pequeno, distante, passageiro.
Depois veria, depois viria, depois saberia do raio na curva, na luz do túnel, o corte no atalho, as tantas cancelas, as tantas canseiras num corpo acelerado na mudança dos ventos, abrindo as mãos mostrando o caminho.
Depois, então, seria outra estação.