MINHA GALINHA MARIVALDA
Sempre amei os animais...
Desde pequenina nunca diferenciei a importância ou diferença entre uma barata, ou um animal em extinção.
Um considerado doméstico/domesticável a um dito selvagem e/ou raro, incapaz de ser criado em cativeiro.
Sempre os preferi livres mesmo...
Prisão é coisa pra Homo Sapiens Sapiens! Pra bicho que é bicho sem bicho ser, não!
De animais “estranhos” a comuns sempre dava um jeito com a cumplicidade de papai, meu “pôio”, de manter por perto aos meus cuidados um bichinho qualquer...
Até hoje acho...PRA SER FRANCA...TENHO CERTEZA: A assassina de meu "hamster" foi minha mãe. Ela não suportava a presença dele entre minhas roupas, minhas gavetas onde eu o escondia justamente para protegê-lo dela...
Tadinho...Morreu envenenado!
A culpa foi colocada na empregada que nos servia, mas EU SEI que foi a mando de mamãe...
Até hoje quando lembro que justiça não foi feita, que a assassina nada pagou ou respondeu fico irada!
Mas entre todos os bichinhos que tive vim falar de Marivalda.
Minha galinha Marivalda!
Nesta época eu morava em Goiás e resolvi ter 1 ou 2 galinhas em casa para que nos fornecessem ovos de qualidade e trouxessem alegria e o mesmo amor que eu nutria pelos animais para minha filhinha...
A idéia foi boa, isto nem se discute.
Até meu queridíssimo/excelentíssimo/ex-maridinho, pai da minha fofinha, resolver trazer um GALO.
Tudo bem. Concordei.
Afinal, se queria pintinhos para que Malu brincasse teria que fazer tal casamento, of course...
Ahhh...O galo era terrível! Acordava-me ao alvorecer com aquela cantoria de enlouquecer quem pretendia dormir até mais tarde. Tava na cara e nos olhos dele que não gostava de mim!
Se não sabia dar Amor e Carinho a quem o alimentava e o aturava, amado também não era.
Fui deixando já decidida a me livrar dele assim que a galinha (ainda não era a Marivalda) colocasse ovos para chocar...
Tava na minha lista o tal galo e nem o nome que demos a ele lembro, já que a panela tava preparada pro galo à molho pardo que ele iria virar assim que a hora certa chegasse.
Desprezo total um pelo outro!
Apenas olhares de soslaio quando eu voltava pra casa e dava de cara com ele no portão querendo e se achando "Dono do Terreiro"!
Galo metido a cão de guarda e com raiva da verdadeira galinha dona da casa???
Ninguém merece, né?
Quem cantava de galo lá era eu e só lamento se ele não teve capacidade intelectual para entender meus recadinhos educativos...
Mas vamos à Marivalda.
O tal galo deixou como herdeiros pintinhos nas duas galinhas e continuou que nada detinha a taradeza daquele galo!!!
Não cansava não!
Uniu-se cheio de poder fálico aos machinhos que iam nascendo e crescendo e perdi o controle da situação e do galinheiro...
Minha Luísa, minha Malu, adorava ver os pintinhos nascendo, rompendo as cascas dos ovos e aprendendo a andar pelo quintal!
A alegria dela era minha alegria!!!
Até que Marivalda, filha/neta/bisneta/tataraneta/sei lá do talzinho, colocou ovos e foi chocá-los atrás da moita de capim-limão.
Todos e cada um/uma tinha nome que Malu dava, vez ou outra eu incrementava...
Ríamos muito até mesmo quando a casa era invadida pela galinhada toda!
Viravam panelas, subiam nas camas, me levavam à beira de um ataque de nervos!!!
Passava em nome da alegria e das risadas de minha filhotinha e eu ria ao final também.
Era tão pequenina minha Princesinha...Valia a pena e as penas que eu tinha que limpar depois...rsrs...Coisas de mãe!
Mas Marivalda...Ahhh, Marivalda deveria ter sido “batizada” como Marvarda!
Deve ter puxado o sangue de seu ancestral galo que ainda lá vivia, velho e ainda "atuante"...ai,ai...
Avisos não faltaram, pois percebi que aquela galinha era diferente das outras.
Todas protegem seus ninhos e suas crias.
Assim como qualquer outro animal...
Mas Marivalda tinha o mesmo olhar do tal Galo que tava na minha lista...
Avisei diversas e repetidas vezes pra Malu manter sempre muita distância da moita de capim limão...
Como avisei!
Mas criança é criança, né?
Sorte que eu estava em casa.
Sorte minha, sorte de Malu e infelicidade geral do galinheiro!!!
Malu saiu de fininho do meu campo de visão e foi até a moita ver os pintinhos que eu - burra que fui - disse pra elazinha que tinham acabado de nascer!
Nada vi.
Só deu tempo de ouvir e acudir!
Malu correndo desesperadamente em círculos pelo quintal com um dos pintinhos entre as mãos e a danada da Marivalda alçando pequenos vôos e picando sem dó nem piedade a MINHA CRIA!
Com o facão da cozinha que eu segurava naquele momento, picando legumes e verduras, avancei em Marivalda e como deu trabalho voar como ela!
Avançava em mim também!!!
- Larga o pintinho, Malu! Solta o pintinho no chão, Malu! - gritava eu enquanto acertava um golpe atrás do outro em Marivalda colocando-me como escudo entre ela e minha filha e correndo de costas para proteger Malu e “enxergar” bem por que lado Marivalda a atacaria!!!
Que sufoco!
Malu não soltava o pinto!
Marivalda mesmo golpeada não parava e minha intenção não era matá-la.
Até que ao invés de gritar com Malu para que soltasse o pinto e olhar para Marivalda, eu- em milésimo de segundo-, arranquei o pintinho das mãos de Malu, dei um último e fatal golpe em Marivalda e sentamos mãe e filha exaustas entre morta, feridos, um pintinho órfão e assustado e todo um galinheiro histérico e prestes a uma rebelião na terra de chão batido.
Malu ficou em estado de choque.
Eu toda suja e descabelada, mas com a certeza de ter feito o correto ao seguir a Lei da Sobrevivência.
Entre Marivalda e seu filho, optei por mim e minha pintinha.
Meu marido chegou.
Alguém, sei lá quem, ao invés de vir nos socorrer, mandou avisá-lo que algo “errado” estava acontecendo lá em casa.
Ele nada disse.
Até quis dizer...mas engoliu seco com o olhar furacão que mandei nele entendendo no ato que eu havia milhareeesss de vezes dito que aquele excesso de lotação galinácea em nosso quintal não acabaria em boa coisa.
- Vixe...E agora? Que que eu faço? - perguntou.
- Dê hoje mesmo...HO-JE...Todas estas galinhas e PRIN-CI-PAL-MEN-TE aquele galo dos infernos! Re-pe-tin-do: HO-JE!, pôôôr fa-vor!!! - disse a ele usando apenas a voz entre os dentes trincados e trancados de cansaço e raiva.
E assim foi feito.
Ao fim do dia, um amigo encostou uma caminhonete no portão.
Me tranquei no quarto com Malu e liguei a TV.
Desliguei a TV e liguei o som.
Música ecoava e soava mais alto que os có-có-ri-cós vindos lá de fora.
E ao som de Sabão Crá-Crá, Sabão Cru-Cru dos Mamonas Assassinas que Malu adorava, as galinhas foram sendo levadas.
Deixei que ficassem dois ou três pintinhos.
Deixei...
Mas atenta para que reprodução em massa não fugisse ao meu controle.
Malu aliviada com a “ida” de Marivalda.
Ela lembra disto até hoje e damos risadas...
Eu, um pouco triste, pedi ao final que deixassem uma galinha já morta, depenada e preparada para que eu fizesse uma saborosa galinhada sem pequi, mas que de forma alguma fosse a Marivalda.
Posso ter 1001 defeitos entre 1001 qualidades, mas canibal não sou não, viu?
E em meio a tantas penas, que pena!
Penoso atender aos caprichos absurdos e sem qualquer lógica dos desígnios dos corações de um passado amor e de uma sempre amada filha...
Mas...Tudo passa!
Pode "botá o ovo podre" na minha conta...
EU PAGO!
Music by Oswaldo Montenegro
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