Os Últimos Moicanos

"Eu acredito muito em disciplina e, aqui no Brasil, quando se fala essa palavra, as pessoas te acham um Hitler." (Marília Pêra- ilustre artista carioca - nascida em 1943)

Após a WWII, verificou-se o baby-boom, um fenômeno no aumento do número de bebês, todo mundo casando, querendo casa e se acasalando. Agora o processo é até invertido. Mas a busca desenfreada por coisas continua...Nos EUA o casal Robert Kennedy teve dez filhos. Aqui no Brasil uma socielite paulista, Marici Camargo, casada com o megaindustrial Trussardi, teve mais de dez. Inicio da era da permissividade e do consumismo desenfreado.

Mas a grande leva de intelec-atuais nasceu um pouco antes. São os sessentões de hoje. Alguns já senis, talvez com parkinson ou alzheimer. Mas os que estão firmes continuam brilhantes. Alfredo Sirkis, no Conexão do Roberto D'Ávila, disse que a sua geração (nossa) é a última representante da era literária, aqueles que obtiveram conhecimento, cultura e capacitação através da leitura. A.Sirkis possui uma bagagem invejável. Chico Buarque, glória

da nossa MPB (e das Letras) afirmou, numa entrevista, que antes dos vinte anos não pôde entrar na biblioteca do pai, o intelectual Sérgio B. de Hollanda. A proibição descabida foi inútil. Chico é uma enciclopédia ambulante. Sua capacidade de lidar com as palavras, a sensibilidade ímpar, a inteligência brilhante, ele possui o que chamamos de excelente cabedal. Caetano Veloso deve ter devorado uma biblioteca inteira. Ele é um prestidigitador das palavras: embaralha, reagrupa, retira, cria, reinventa e eterniza. Inventividade é mais do que criatividade. É pensar por indução, dedução, analogia, comparação, redução e expansão. É ter a volatilidade do éter, a expansão da luz e a permanência do diamante. É mergulhar no Inconsciente e cair na Fenda, o que chamo de quarto estado. É de lá que vem o insight, o fiat lux, a centelha que aclara, esclarece, rebrilha, fixa e faz a magia se tornar tangível. Não tenho coleções de CDs. Quase não ligo o som. Só aprecio mesmo é um toque de clássico. Quando ouço o mau gosto dos vizinhos, desisto de vez...Igual Beethoven, capto só as sinfonias internas e cósmicas. Os gênios da música, que também são letristas e poetas, eu os descubro na palavra escrita. Chico, Gil,. Caetano, Raul Seixas, são ótima leitura em Literatura Comentada. Fiquei tão fascinada com o A.Sirkis! Mas ainda não li nada dele. Os três primeiros livros do Gabeira eu tenho. Não li o Jô por preconceito, admiro-o de montão. Mas o Xangô de Baker Street, só se a gente pudesse deletar o xangô...Mas o Jô é imbatível, inteligentíssimo. Não aprovo o idealismo sem fronteiras desses ídolos. Quase todos ex-exilados políticos no período negro. Claro que essa minha nostalgia vai deixar muita gente boa de fora. O título desta, no plural, é uma alusão a James Fenimore Cooper e sua obra clássica imortal. Na infância não li livros. Só soletrei pela cartilha analítica. Em minha casa não os havia....Ma sli o livro do Tarzan dez vezes. Aposto que esse boom de bons (agora que só se incensam as bundas) se esmerou muito, fez análise sintática de enormes textos de Camões, estudou francês e latim. Meus professores de Latim, primeiro o João Barra Guimarães, no CE de Alto Jequitibá, depois o padre Rivadávia no CE de Lajinha/MG, me passaram tanto gosto pelo idioma que batizei meu primeiro livro de poemas de Latin-Idade.(Aqui homenageio também meu primo Apolo Heringer Lisboa, sessentão sensacional.)

Outro primo, num Palpite Infeliz (abram alas a Noel Rosa, salve, salve!) disse que hoje não é preciso escrever mais nada. Tudo está na Internet. Ele & outros acham que o computador se provém e se provisiona por si mesmo, ou por uma picape basculante que despeja tudo lá. Ah!

As porcarias e os lixões que entopem as redes de esgoto entram sem licença, como os ladrões. Mas o que tem de bom, útil, excelente LÁ, são as melhores cabeças pensantes que escrevem, gravam, esculpem, pintam, compõem, perlaboram, eternizam na vastidão do Cosmo. Vila Velha, 19 de abril de 2008. Dia do aniversário de minha irmã Marly.

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 21/04/2008
Código do texto: T955199