AGORA JÁ ERA...FERROU!

AGORA JÁ ERA... FERROU!

Não há nada mais angustiante na vida de um internauta do que um e-mail enviado impensadamente. A gente clica em “enviar” e em um segundo se arrepende. Nãaaaaoooo! Meu Deus! Aiiiii, e agora? Putz! ... Caramba! Não, eu não devia ter mandado isto, e agora?

Ficamos ali olhando a tela, olhos fixos tal qual autista ou que nem o boneco “João-Bobo”, balançando pra frente e pra trás. Levantamos da cadeira, andamos, sentamos novamente, mãos na cabeça, desespero total. E agora, o que eu faço? Que droga de computador! Que idiota eu sou! Por que fiz isto? Como não pensei antes? Mas, mesmo pensando e avaliando, a gente acaba sentindo aquele impulso estranho e sacana que temos por nós mesmos, e, invariavelmente, noventa por cento das vezes, acabamos por mandar e nos arrependemos.

Na informática creio ser a maior sensação de impotência que existe. Há solução pra tudo. Vírus, fakes, defeitos, na pior das hipóteses a gente compra um computador novo. Pra tudo existe uma fórmula, uma forma, um o quê fazer. Para tudo. Menos pra um e-mail enviado equivocadamente e o impossível resgate do mesmo. Ficamos com uma vontade estúpida de enfiar a mão no monitor e agarrar aquela mensagem ridícula, acusadora, com remetente trocado ou qualquer coisa que seja que foi embora sem o nosso verdadeiro, íntimo consentimento. Os dedos foram mais rápidos do que a mente. A ansiedade falou mais alto.

Se alguma coisa importante ou simples é esquecida, existe a oportunidade de escrever outra mensagem complementando ou “retificando”, ou “putz, esqueci!”

Mas nada, nada supera a angústia de um e-mail enviado, seguido por instantes de arrependimento, e o que nos resta são a culpa e raiva diante desta impotência cibernética.

No Orkut, quem é desligado contumaz, faz a festa, não é? Vibra e quase goza com a facilidade que temos de escrever e, vendo que erramos correr lá e deletar. Tem até o jogo da sorte pra aqueles mais neuróticos, que é a ventura de poder apagar antes que o outro veja. Ah, que bom!!

Mas, infelizmente, como nada na vida são flores e cantos, ali também impera um terror, uma invenção nova, que se chama depoimento falso, ou recurso do depoimento. Aquele espaço que usamos para deixar elogios ou mensagens de reconhecimento, agora é super usado para dizer as coisas que não queremos que outros vejam; tipo fofocas, telefones, segredos e por aí vai. Se o destinatário não lê e não dá um retorno, torna-se outra tortura. Armadilha! Aí mora o perigo, e cai na mesma situação do e-mail afoito e acidental. Virou objeto de agonia. Encaminhou, se ferrou. Dançou. Não pega mais. Bau bau!

Esta vivência nos remete à antiguidade. O mesmo fato aconteceu com as cartas enviadas pelos correios, mais anteriormente ainda, com as missivas enviadas por pombos correios. Só que ali havia ainda a chance de se dar um tiro ou flechada no pombo. Havia uma saída, mesmo que mínima. De outra maneira, nos relembra a própria palavra dita, visto que também não retorna, porém, o e-mail supera tudo, porque fica desgraçadamente lá na tela emoldurando nosso ato falho. A nossa basbaquice. Não temos o poder de avançar no computador do destinatário e deletar...

Já foi, já era!

Vera Sarres 26/07/2007