REFLEXÕES
O passado é repleto de momentos que nos trazem grandes saudades. Como foi bom o tempo da vovó quando o carinho, o afeto e o amor andavam em passos certos com a solidariedade humana. Mas, a saudade só impera sobre as coisas boas que aconteceram no passado.
Havia emprego, trabalho e abundância. Não se pode generalizar em dizer que tudo no passado foi muito bom. É certo que quando a população era menor as pessoas conviviam melhor. Havia mais respeito, temor, confiança, fé e moralidade.
Quem dentre nós tem saudade do naufrágio do Titanic? E dos Campos de Concentração Nazistas da 2a. Guerra? Quantas coisas ruins aconteceram das quais as pessoas não sentem saudades. Muitas aconteciam atrás das portas, nos bastidores da vida sem serem noticiadas. A obscuridade reservou momentos só para si e nestes a saudade transformou-se em repúdio.
Os conceitos de vida e convivência social mudaram, o crescimento e desenvolvimento trouxeram seus preços. O romantismo deu lugar ao progresso que trouxe avanços fantásticos e maldade sem fim. No tempo do amor e da solidariedade vivia-se melhor, sem dúvida. A insegurança, a desconfiança e a má educação eram menores.
Hoje vivemos os tempos das desesperanças. Tempos de desemprego, de falta de atenção à saúde, à educação à segurança social. A falta de sensibilidade de poucos converte em desespero a vida de muitos. As descrenças nasceram e ficaram arraigadas nos medíocres. Os sonhos são filhotes da realidade que tem sua força no trabalho. As pessoas não conseguem ver mais as coisas belas da vida porque lhes faltam tempo para procurá-las. O dia não tem mais 24 horas, se muito 16, porque o progresso nos engole.
O homem precisa mudar seus rumos e procurar reconstruir coisas boas do passado porque os noticiários diários estão repletos de “naufrágios do Titanic”, de “campos de concentração nazistas” espalhados pelo planeta como reflexo desta desenfreada globalização de tudo, menos da solidariedade humana, do amor ao próximo e de metas para um progresso social justo.
Voltaram a acontecer coisas ruins atrás de portas, nos bastidores da vida, agora noticiadas e com a rapidez do progresso, fazendo com que a vida se torne pior e que em cada camada da sociedade se crie a inércia, a insegurança e a falta de coragem para reagir diante de tantas injustiças sociais e abusos à cidadania.
Neste momento de reflexão me permito perguntar:
- Até quando poderemos agüentar?
Do livro "Crônicas, Contos e Poesias" editado pela Editora e Gráfica Universitária da UFPel em 2007, lançado na 35ª Feira do Livro de Pelotas/Rs, (com o título de Reflexões Momentâneas).
Publicado no jornal Diário da Manhã na página Opinião no dia 08/08/2008 - Pelotas/Rs.