Outra da Lili
A Lili é uma boneca que eu tinha quando era criança. Uma personagem fantástica que assumia muitos papéis.
A minha boneca ocupava também o lugar de minhas amigas reais quando elas não podiam brincar. Essa era a melhor parte porque eu podia descarregar minha raiva e dar uns tabefes na boneca. Ou forçá-la a fazer coisas que a tal amiga nunca faria.
Mas todos crescem e a Lili foi brincar de ser gente com outras meninas. O que restou foi minha mania carinhosa de chamar minhas amigas de Lili. Assim posso contar as aventuras de qualquer uma delas. Afinal, todas são um pouco personagem e fazem parte da minha vida.
Pois a Lili veio me visitar um dia desses. Está bem, com um bom emprego e linda. Decidida, segura. Mudou muito nesse tempo em que ficamos afastadas. Ela reconhece e afirma que antes era ovelha. Ficava ali parada e deixava qualquer um lhe indicar o caminho. Se fosse dia de tosquia, mal dava uns balidos.
Agora tudo é diferente. Acordou para vida e para seu verdadeiro papel - protagonista. Continua divertida, cheia de boas coisas para contar. Adorei quando ela relatou a história do cachorrinho do João, seu filho de quatro anos. O João tinha sofrido muito com a morte de seu peixinho e agora, por azar o cachorrinho ficou doente e morreu. Isso quando o João estava viajando.
Na iminência da chegada do menino, Lili ficou indecisa, não podia revelar assim a morte do cãozinho. Prontamente inventou que ele estava na clínica veterinária. O que só piorou as coisas e ela resolveu substituir o primeiro por outro cachorro, um pouco diferente, não deu tempo para escolher melhor.
O João foi buscar o amigo e logo ficou desconfiado, mas os dois, menino e cachorro, fizeram amizade. Só que o menino que não tem nada de ovelha foi logo dizendo:
- Como esse cachorro está diferente! Não é mãe?