ROMANTISMO E MAGIA
Como a vida era diferente de tudo que aí está há pouco anos. Não sei se para melhor ou pior, mas quem não vivenciou algo não tem como fazer nenhum parâmetro, não pode avaliar nem comparar. Tendo vivido tempos, digamos, remotos, e estando ainda por aqui para contar, percebo distintamente as transformações radicais de lá para cá. É até normal estranhar tantas diferenças, concordando ou não com elas, portanto nenhuma crítica merece quem muitas vezes lembra o passado e o confronta com o presente. Tudo isso vem a propósito de um fato interessante que lembrei da minha juventude. Aos dezesseis anos apaixonei-me de maneira frenética por minha primeira namorada, ela também da mesma idade, que, para minha felicidade, correspondeu àquela paixão adolescente. Eu era escoteiro, ela, bandeirante. Quando, tímido e tartamudeante, falei a ela dos meus propósitos galanteadores, sorriu-me encabulada, baixou o rosto ruborizado e convidou-me para ir à casa dela a fim de conhecer sua família. Exultei de tanta alegria, mesmo não sabendo o comportamente adequado para chegar assim, sem mais nem menos, logo de cara, à casa da primeira namorada. Mas fui, no domingo. Quem me recebeu foi o pai dela, simpático e cortês, que pediu-me para sentar na varanda e aguardar. Depois vieram a mãe, os irmãos e as irmãs, todos sorridentes e amáveis. Eu, é evidente, tremia feito vara verde e gaguejava ante cada um que me apertava a mão, ansiando a vinda, afinal, da garota alvo dos meus delírios juvenis. E por fim ela chegou. Sentou na cadeira ao lado da minha, meio metro longe uma da outra claro, e sorriu-me. Foi a primeira tarde mais emocionante e terna daquele jovem cheio de esperanças e sonhos que eu era. Para nós, naquele instante quase mágico, bastava ficar olhando um para o outro e sussurrando frases banais, sem nenhum outro objetivo a não ser sentir que ambos nos sentíamos felizes somente em olhar um para o outro e perceber nesse olhar o amor pueril porque ainda incipiente, mas tão intenso quanto nossos corações podiam expressar através da incrível rapidez de suas batidas. Não havia toques, nem mãos se afagando, nem qualquer resquício de lubricidade que maculasse a pureza daquele casal enamorado. Assim era, e podem ter certeza: a aura de romantismo e ternura existente supria os momentos de namoro(ali sim, era realmente namoro, isto é, o conhecer-se um ao outro sem a menor conotação de desejos inconfessáveis), e para nós bastava. Eu queria estar com ela, que queria estar comigo. Apenas. Não éramos amantes como hoje acontece. Éramos namorados.
Como a vida era diferente de tudo que aí está há pouco anos. Não sei se para melhor ou pior, mas quem não vivenciou algo não tem como fazer nenhum parâmetro, não pode avaliar nem comparar. Tendo vivido tempos, digamos, remotos, e estando ainda por aqui para contar, percebo distintamente as transformações radicais de lá para cá. É até normal estranhar tantas diferenças, concordando ou não com elas, portanto nenhuma crítica merece quem muitas vezes lembra o passado e o confronta com o presente. Tudo isso vem a propósito de um fato interessante que lembrei da minha juventude. Aos dezesseis anos apaixonei-me de maneira frenética por minha primeira namorada, ela também da mesma idade, que, para minha felicidade, correspondeu àquela paixão adolescente. Eu era escoteiro, ela, bandeirante. Quando, tímido e tartamudeante, falei a ela dos meus propósitos galanteadores, sorriu-me encabulada, baixou o rosto ruborizado e convidou-me para ir à casa dela a fim de conhecer sua família. Exultei de tanta alegria, mesmo não sabendo o comportamente adequado para chegar assim, sem mais nem menos, logo de cara, à casa da primeira namorada. Mas fui, no domingo. Quem me recebeu foi o pai dela, simpático e cortês, que pediu-me para sentar na varanda e aguardar. Depois vieram a mãe, os irmãos e as irmãs, todos sorridentes e amáveis. Eu, é evidente, tremia feito vara verde e gaguejava ante cada um que me apertava a mão, ansiando a vinda, afinal, da garota alvo dos meus delírios juvenis. E por fim ela chegou. Sentou na cadeira ao lado da minha, meio metro longe uma da outra claro, e sorriu-me. Foi a primeira tarde mais emocionante e terna daquele jovem cheio de esperanças e sonhos que eu era. Para nós, naquele instante quase mágico, bastava ficar olhando um para o outro e sussurrando frases banais, sem nenhum outro objetivo a não ser sentir que ambos nos sentíamos felizes somente em olhar um para o outro e perceber nesse olhar o amor pueril porque ainda incipiente, mas tão intenso quanto nossos corações podiam expressar através da incrível rapidez de suas batidas. Não havia toques, nem mãos se afagando, nem qualquer resquício de lubricidade que maculasse a pureza daquele casal enamorado. Assim era, e podem ter certeza: a aura de romantismo e ternura existente supria os momentos de namoro(ali sim, era realmente namoro, isto é, o conhecer-se um ao outro sem a menor conotação de desejos inconfessáveis), e para nós bastava. Eu queria estar com ela, que queria estar comigo. Apenas. Não éramos amantes como hoje acontece. Éramos namorados.