O PARAISO QUE VIROU UM INFERNO


Quando foi tirado o subsídio do trigo, seu preço subiu mil por cento, puxando para cima o preço do pão. As vendas da padaria caíram drasticamente. Pensei em diversificar.Meu sonho de crescer não poderia morrer.  Resolvi abrir outro negócio.

Optei por um bar. Mas seria diferente. Teria cabanas artesanais realçadas com palha de carnaúba. Como já tinha um terreno grande, fora da cidade, era só iniciar o projeto.

Trabalhamos com muito afinco. Depois de algum tempo, o novo empreendimento tomava forma. O investimento não foi pequeno. Como não tinha energia naquele local, foi preciso instalar até um gerador. As doze cabanas estavam ficando prontas. Tinham até interfones interligados à uma central. Finalmente escolhemos um nome: Paraíso.

Agendamos a data da inauguração. Executávamos as últimas etapas do projeto. A logomarca era uma maçã mordida. .Trinta dias antes da inauguração, colocamos uma publicidade nas rádios: Ela dizia assim: “Você merece o paraíso!”..

Imagine a multidão naquela noite de abertura!. Casa lotada, fila de carros. Os funcionários na cozinha se esforçavam para atender os pedidos. O interfone não parava de chamar. Os garçons corriam. Sucesso total.

Na manhã seguinte voltávamos para casa, vendo que o faturamento era vinte vezes maior que o da padaria. Dava para pensar que aquela seria a grande jogada. O Paraiso nos trazia alento e perspectivas alvissareiras...

Após trinta dias de operação, a freqüência aumentava cada vez mais. Nos domingos havia programação todo o dia e entrava pela noite. Casa cheia. Vendas em alta.

Contratamos o maior grupo de forró da cidade. Todos os domingos à tarde, acontecia ali o maior forró de toda a região.

Ao completar um ano de operação, o negócio já estava presumivelmente consolidado e crescia cada vez mais.

Entretanto, dois fatos tristes mudaram o rumo do Paraíso: Numa tarde, na hora do ápice do forró, chegaram, repentinamente, alguns motoqueiros muito loucos, em alta velocidade, puxaram suas armas e deram vários tiros. O alvoroço e a gritaria foram enormes. A multidão correu, em polvorosa. Raciocinei rápido e resolvi ir chamar a policia. Peguei o carro e corri até o posto policial mais próximo. Ao comunicar o ocorrido e pedir socorro aos policiais, ouvi o que nunca mais esqueci: O diabo é quem vai lá!  Voltei desesperado. Ao chegar, vi a desolação. Os garçons juntavam os pedaços de mesas e cadeiras quebradas. Todos reclamavam as contas que não puderem receber. Prejuízo total.

No dia seguinte este assunto tomou conta do noticiário na imprensa. A freqüência caiu drasticamente. Comentavam que no Paraíso quem comandava era bala e peixeira.

Arrumamos a casa e nos preparamos para continuar a jornada. Passados alguns dias, já com movimentos menores, aconteceu outro percalço no caminho. Num sábado à noite aconteceu algo pior. Por volta de meia noite, houve uma briga feia e a multidão debandou novamente. Uma pessoa foi ferida. Muitos se aproveitaram e fugiram sem pagar as contas mais uma vez.

Com estes incidentes desastrosos, o Paraíso se transformou num verdadeiro inferno...Impossível de continuar...