Qual o motivo para ser bom e cordial?
Você alguma vez já se fez esta pergunta? Pois bem, estava eu cá com os meus botões pensando exatamente nisto, sem, no entanto conseguir chegar a um denominador comum..
Há família, “algumas” que ensinam aos filhos, a necessidade de serem cordiais para com os outros, salientam que é preciso cooperar com o irmão, ser bom e ajudar sempre que possível, diz ainda, que isso deveria fazer parte do ser humano, embora não faça. Quem de vocês já ouviu isso? Voltando aos meus botões. Lembro-me das vezes que fui cordial, que ajudei, apoiei, fui amigo, companheiro de todas as horas, mas veja as situações que passarei agora a relatar.
Conheci Bela, como o próprio nome diz bela, aquela mulher de parar o trânsito; transito de São Paulo, cidade grande, uma vez que se fosse em uma pequena cidade, não surtiria o mesmo efeito. O que fiz ingenuamente? Apresentei-a a meu melhor amigo, o João. João tinha porte atlético, vinte e poucos anos, não vou me estender nos elogios, não ficaria bem para minha imagem.
Por certo vocês já deduziram o que aconteceu em seguida. Isso mesmo. Ela trocou-me por ele. Veio com uma conversa mole, que o João “atleta” e ela tinham mais coisas em comum que nós dois. Para completar, começou relatando todas aquelas qualidades que temos e não queremos tomar conhecimento no momento da separação. Você é uma pessoa muito especial, cheio de qualidades, o homem que toda mulher deseja ter ao lado. Mas ela não quer. Fiquei chateado, coloquei o rabinho por entre as pernas e fui sem dizer Adeus.
Fiquei então, meditando. Sempre fui um homem cordial, honesto, romântico como elas dizem preferir, mas mesmo assim não obtive sucesso.
Devo ser um homem sem sorte, mas não aquele mencionando pelo pedagogo e contador de história Roberto Carlos, sou apenas um homem confuso com o próprio destino.
Prossigamos, enquanto andava pela rua algum tempo depois, observei em uma livraria, um livro raríssimo, não me detive, comprei-o sem pechinchar, guardei-o junto a mim como coisa preciosa. Chegando ao meu local de trabalho, mal tive tempo de escondê-lo, digo isso, pois foi esta a minha vontade, para que ninguém o pedisse emprestado.
Agora imagine você chegando com algo novo, as pessoas curiosas aproximam-se, todos querem tocar, não basta ver com os olhos, as mãos parecem olhos famintos. Uns mais afoitos que outros, têm sempre aquele que descaradamente pede emprestado. O mundo cai aos seus pés, emprestar ou não emprestar? Penso, penso, empresto ou não? Acabo por emprestar. Emprestei-o por lembrar daqueles benditos ensinamentos. A pessoa vai, leva seu bem precioso, dais depois volta, ela chega e devolve-o amassado, sujo. Você quase tem um troço.
Com o tempo a situação se inverte, e é você que precisa de algo emprestado. Então faz todo aquele rodeio até criar coragem para pedir e a pessoas faz mais ainda para emprestar. O rodeio se prolonga e você acaba por desistir do empréstimo, a pessoa; dar graças a Deus por sua desistência estava na cara, marcado com letras garrafais: Não quero emprestar nada. Acredito que ela pertença a uma daquelas famílias que desconheça os tais ensinamentos: ser cordial, ajudar o próximo, cooperar, blá, blá, blá. Se fosse ficar por aqui relatando meus infortúnios por certo tornaria você caro leitor uma pessoa entediada devido à repetição dos fatos.
Mas voltando ainda a indagação inicial: que motivos temos para sermos bons ou cordiais? Vou continuar procurando.
Quase um ano depois, estava eu lá no ponto de ônibus, sol escaldante. O dito para, entro apressado, apressado e apertado, não há lugar no interior do ônibus para um senhor cansado. Encosto-me em uma poltrona equilibrando-me para não cair.
O ônibus segue, a cada ponto de parada, entra uns dez e saem uns dois, e o aperto aumenta. Chegando ao meu ponto, desço sem nem ser notado, sem chamar nenhuma atenção, vou espremendo-me em meio às outras pessoas, que parecem muito apressadas. Na descida, devido ao aglomerado de pessoas, acabo por desequilibrar-me. Percebo então, uma pequena mãozinha tentando amparar-me sem sucesso, já no chão levanto os olhos procurando identificar quem havia tentado socorrer-me. Percebi um menino franzino, que deveria ter entre cinco ou seis anos.
Perguntei-o porquê motivo mesmo sendo muito pequeno ele havia tentado ajudar-me. Ouvi um fiozinho de voz responder-me, disse-me que seu pai havia ensinado isso a ele, que somos todos irmãos, devemos ajudar e ser cordial com o próximo devemos amar incondicionalmente, devemos cooperar, disse-me ainda que ele era um filho muito obediente.
Olhei novamente e não consegui mais vê-lo, da mesma forma mágica que apareceu se foi em meio à multidão. Deixou-me apensas uma certeza. A maioria pode não ter conhecimentos destes ensinamentos, mas independente de qualquer coisa, eu jamais me esquecerei deles.