Máquina do tempo
Não faz muito tempo, li em uma estimada revista de divulgação científica, do qual sou fã, um artigo que ativou minha memória e me fez viajar por alguns instantes pelas vias quase esquecidas de minhas lembranças, num momento que mais pareceu uma paródia pseudo-científica da famosa cena da Madeleine mergulhada no chá, de Proust.
O tal artigo dizia que alguns cientistas realizariam um experimento no maior acelerador de partículas já construído, a fim de se estudar os efeitos da violenta trombada entre dois átomos. Mas, dentro desse tal acelerador, diziam os doutores da ciência, poderia ocorrer algo fantástico. Uma nano-micro-minúscula brecha no espaço-tempo. Qual a importância disso? Nenhuma. Pelo menos por enquanto. No futuro, porém, poderiam desenvolver um método para realizarmos as tão sonhadas viagens no tempo.
Depois dessa aula de física quântica e sub-atômica, vamos voltar para meus devaneios mnemônicos. Lembrei-me, ao ler a notícia, dos tempos em que meus hormônios borbulhavam, minha cara corava de vergonha quando uma moça me fitava e minha cabeça estava cheia de caraminholas científicas. Dentre as varias certezas que eu tinha na época, muitas se perderam. Eu acreditava, por exemplo, que paranormalidade existia. Só hoje consigo enxergar a verdade: meros atores gritando “Rá!”, além de outras interjeições inúteis. Já as viagens no tempo, isso sim, não saiam e,de certa forma, ainda não saem da minha cabeça. Me recordo de um filme, em que um jovem e um cientista malucão viajavam entre o passado e o futuro. O interessante, é que eu não me imaginava o jovem bonito e simpático, com uma bela namorada a tiracolo, mas sim o cientista, de olhos esbugalhados e cabelo “a lá Einstein”. Bons tempos aqueles.
Hoje, raramente penso em deslocamentos temporais e filmes de ficção científica. Apenas quando leio algo relativo ao assunto, volto a puxar pela memória e reorganizar meu passado em imagens e flashes. Minha cabeça é um turbilhão, assim como o tal acelerador de partículas. Violentas trombadas ocorrem o tempo todo. Porém, não são átomos a colidirem, mas sim pensamentos e emoções. Cada vez que minha razão choca-se com minha sensibilidade, surgem verdadeiros BigBangs. E, assim como o universo um dia convergira em um evento chamado BigCrunch, esporádica e casualmente, resumo essas explosões em simples aglomerados de palavras e idéias.