AMANHECER .....

 

   Não tinha dormido bem. Estava muito preocupado, tenso sem nenhum motivo aparente. É bem verdade que dentro de algumas horas eu teria um compromisso importante mas, tendo passado tantas vezes por semelhante experiência era estranho que inexplicavelmente tivesse perdido o sono e estivesse já desperto aquela hora da madrugada.

   De nada adiantou rolar de um lado para outro pois o sono não vinha e ainda era muito cedo para fazer qualquer outra coisa diferente que não fosse ficar na cama.

   Cobri a cabeça com o travesseiro , procurando abafar os primeiros ruídos da madrugada e nada, não houve jeito. O sono já tinha ido embora há muito tempo. Não vendo outra solução para aliviar minha tensão levantei-me e fui para a janela do meu quarto.

   A intenção era simplesmente a de ficar ali olhando para o nada, sem fazer coisa nenhuma. Não poderia adivinhar o quanto estava enganado.

   Primeiro , surpreendeu-me aquela deliciosa brisa que soprava na minha direção, trazendo o perfume das roseiras que minha vizinha cuidava com tanto amor.

   Segundo, pelo colorido cor de cobre que cobria o céu, onde ainda podiam ser vistas as estrelas retardatárias que se preparavam para dar o magnifico espetáculo de sempre do outro lado do mundo. Dois pássaros madrugadores pousaram no meu muro.

   Provavelmente eram um casal pois da maneira com que sacudiam as pequenas cabeças e tocavam os bicos não deixavam dúvidas do quanto eram íntimos e se davam muito bem. Depois de algum tempo um deles voou mais alto para o lado esquerdo enquanto o outro ficou observando.

   Não demorou muito e o pássaro que ficou no muro também bateu asas, só que para o lado contrário. Não tive mais nenhuma dúvida de que eram um casal de namorados e estavam se despedindo.

   Na rua passou um cachorro vira-latas. Não me lembro de tê-lo visto antes. Ele procurava comida cheirando a lata de lixo da vizinha que morava bem em frente a minha casa. Vida difícil deve ter esse cachorro. Ter que acordar tão cedo para conseguir alimento e mesmo assim, sem ter nenhuma garantia de obter sucesso.

   Pelo menos teria algumas compensações tipo, não ter que fazer barba, enfrentar condução super lotada, aturar um chefe chato e outras tantas coisas , às vezes, insuportáveis.

   O gato ou a gata (nunca soube nem o nome e nem o sexo daquele bicho chato) de um outro vizinho passou em frente , cruzando rapidamente em sentido contrário ao do cachorro. Com certeza estava voltando de alguma farra.

   Interessante como são as coisas. Não tinha prestado a atenção ao fato de que certos animais acordam tão cedo. Só faltava o periquito aqui de casa começar a bater as asas na gaiola. Aliás. , nunca consegui entender por que os periquitos ficam batendo as asas na grade da gaiola. Deve ser por não terem nada melhor a fazer.

   Agora foi a vez do seu José desfilar em frente a minha janela. Certamente ia comprar pão, pois ainda estava de chinelos, completamente despenteado e bocejando e isso sem contar que ainda estava com a blusa de um pijama aparentemente bem surrado. Entre dentes, resmungou um bom-dia para o entregador de jornais, que por falar nisso, tive a oportunidade de ver pela primeira vez.

   Era um rapazola magro, com uns dezesseis anos aproximadamente, que da sua bicicleta apontava para as casas, torcendo para que o jornal não atingisse nada que fizesse muito barulho. Ou ele era bem treinado ou os vizinhos já estavam acostumados, pois não ouvi nenhuma reclamação. Pela hora, qualquer espirro representava um barulho igual ao de uma trovoada.

   Ouvi ao longe o som de um despertador, desses antigos, bem barulhento. Vai ver que o dono do relógio tinha alguma espécie de acordo com seus vizinhos próximos para também acordá-los aquela hora. Para mim seria uma surpresa que ninguém num raio de cem metros também não tivesse despertado com aquele ruído estridente.

   Ouvindo aquele relógio despertar, comecei a me lembrar de um galo que cantava com toda a força dos seus pulmões exatamente às cinco horas de cada manhã. Não sei o que fizeram com ele . Será que foi consumido num almoço de domingo junto com batatas cozidas, polenta e agrião ?

   Já estava ficando mais claro e aí veio o padeiro, fazendo o possível para que sua buzina não soasse de forma tão desafinada. Duas senhoras se aproximaram, cumprimentaram o padeiro e tão rapidamente quanto chegaram, voltaram para suas casas com sacos de papel, certamente com pães não tão quentinhos assim. O padeiro seguiu em frente, mas antes deu mais uma buzinada bem em frente a minha janela.

   E nisso, ele surgiu em toda sua plenitude. Lindo, majestoso, silencioso e sem pedir licença foi distribuindo seus raios e seu brilho para todos os cantos. Não tinha como não ficar impressionado. Com a chegada do sol tudo parecia ter ficado mais alegre, mais vivo, mais dinâmico.

   Saí da janela mais leve e com um pequeno sorriso nos lábios fui fazer a barba e tomar banho. À mesa, tomando café com minha mulher comentei sobre tudo o que presenciei naquela madrugada-manhã.

   Na rua, indo muito mais tranquilo ao encontro do meu compromisso, rapidamente olhei para o alto e dei um animado bom-dia para o nosso amigo sol....

 

 

 

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(.....imagem google.....)
WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 18/04/2008
Reeditado em 13/01/2013
Código do texto: T951807
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