MÃOS

Mãos que se largam na esperança de algo que não se alcança. Que escapa aos ideais de sonhos tecidos ao travesseiro no calor da noite. Nas insônias negras que rasgam as horas mais contadas. Marcadas...
Mãos que buscam algo pouco além de seus dedos. E mesmo assim a distância parece tão longa e tão infinita! Buscar o que exatamente? Há tanto para se buscar. Ideais. Felicidade. Paz...
Mas as mãos largam-se na monotonia dos dias arrastados. Cansaram-se de implorar através dessa distância que não se alcança. Nessas promessas opacas que cria na imaginação, no personagem não saciado da sede de ser alguém.
Quanto de secreto existe nessas mãos que se largam no dorso da vida já tão vivida? Nessas buscas? Nessa angústia de não alcançar o palco dos sonhos?
No palco, a luz está negra quanto a noite sem lua. No personagem está oculta as mãos de um ator que representa a resignação.
Mãos... Se alcanças... Bem sabes que o ideal está na linha de seus dedos tensos, embora a força esteja na alma já tão cansada.
Mãos... Quando te estendes, vês o palco de seus sonhos e depois a platéia, testemunha de todos seus sonhos e quimeras. Só nesse palco sabes que pode ser você mesmo. Sim, no silêncio de seu palco... Ainda que por segundos. Ainda que esses momentos se apaguem e tu te apagas com eles...

Sonia de Fátima Machado Silva
Enviado por Sonia de Fátima Machado Silva em 18/04/2008
Reeditado em 09/12/2008
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