ÁGUAS DAS CHUVAS
 
Manhã do último domingo, 13 de abril. A semana que o antecedeu foi a primeira do ano com clima demasiadamente quente e céu azulado na maior parte do tempo, exceto sábado, quando São Pedro acenou com algumas nuvens escuras, mas desistiu. Já que o vento levou as poucas que restaram, fui fazer minha caminhada matinal no Eixão Norte, sentindo pela primeira vez os efeitos desagradáveis do calor e da secura, que representam as sensações próprias do período da seca (de maio a outubro).
Pensei: “Este ano vai começar mais cedo”.
Uma hora depois, qual não foi minha surpresa ao olhar para o céu ao leste e perceber que de lá vinham caminhando nuvens escuras em direção ao oeste da cidade, para onde eu me dirigia na volta para casa. Parei já no final do percurso para examinar a possibilidade de aquelas nuvens desabarem em abundância sobre a Horta Comunitária com o solo já empedrando sob plantas, que já manifestavam sofrimento por insolação. Não fui bastante crédula na generosidade da natureza, até porque parecia repetir-se o fato do dia anterior. Como sou fraca em meteorologia! Parada como dois de paus a encarar o céu a cem metros de casa, senti um... dois... três... vários pingos sobre a cabeça.

O casal de pombos estacionado na fiação aérea confirmou: deslocou-se em círculos e foi pousar nos fios ainda secos mais acima. Quando percebi que a chuva ia me pegar no caminho não acelerei o passo para chegar à casa. Quis ter certeza de que não ia fugir como no dia anterior. Segui vagarosamente para garantir que chegaríamos juntas. Que delícia! Ela desabou com vontade. Já em casa, aproveitei para encher uma bacia e dois baldes nas bicas do telhado.
Pensei: “Vai servir para lavar a varanda e o canil.” E serviu mesmo! Poderia ter colhido muito mais, através de um sistema de coleta de água das chuvas, utilizando uma calha.

Esse sistema que já existe funciona assim: a água desce do telhado por uma calha e é enviada para um reservatório (caixa) que fica abaixo ou mesmo no nível do chão, passando por um filtro. Dali, é levada para um reservatório superior com o auxílio de uma bomba de recalque, de onde segue para os pontos de consumo por gravidade. A alimentação dos pontos também pode ser feita por um pressurizador ou bomba de pressão, que capta a água diretamente do reservatório inferior quando as torneiras são acionadas. Neste caso, o reservatório superior é desnecessário. O material utilizado para conduzir a água de um para outro ponto é composto basicamente de registros, canos e joelhos de pvc, de acordo com a área que se deseja irrigar.

Não é uma maravilha ter um sisteminha assim, simples e eficaz?

Ainda mais se considerarmos que o volume de água doce própria para o consumo humano é mínimo em relação ao total de água existente no Planeta.
Além disso, dados estatísticos indicam que, nos últimos 50 anos, a qualidade da água piorou consideravelmente, devido a alguns fatores como maior concentração populacional em áreas urbanas e processos de alta industrialização no campo e nas cidades. Atualmente, grandes centros urbanos, industriais e áreas de desenvolvimento agrícola com alto nível de utilização de adubos químicos e agrotóxicos já enfrentam a falta de qualidade da água, o que pode explicar a volta de epidemias já erradicadas e o aparecimento de novas doenças de pele, alergias, dengue e outras de difícil controle por parte das autoridades sanitárias e da própria população.
Vejam como tudo acontece:

Na área urbanizada, ao utilizarmos água, seja para uso doméstico ou para fins industriais, geramos resíduos, que por sua vez geram algum tipo de poluição. Um exemplo bem comum é a contaminação por escoamento de águas das chuvas. Decorre da própria urbanização (calçamentos e colocação de pisos impermeáveis fáceis de limpar). A conseqüência é que, como a água das chuvas não é mais absorvida pelo solo, segue seu curso arrastando o lixo das ruas e dos lixões a céu aberto, os detritos de esgotos e produtos químicos, carreando tudo para os mananciais e subsolo, de onde retorna ao consumo provocando as doenças.
Portanto, a poluição da água traz inúmeros prejuízos a saúde, em contrapartida ao conforto obtido pela edificação de residências “marmorizadas”.

Segundo a Arquiteta e Urbanista, Cristiana dos Santos Braga, nos países em desenvolvimento, estima-se que 80% das doenças sejam disseminadas por água poluída. Agentes causadores de doenças infecciosas são facilmente transmitidos pela água contaminada por fezes humanas ou de outros animais. Diz ainda a Arquiteta que a poluição “...por águas de infiltração pode ser bastante perigosa, uma vez que vão para os aqüíferos (¹) subterrâneos, causando uma série de conseqüências drásticas para a população que faz seu uso e para o meio ambiente. As fontes de poluição de águas subterrâneas em um meio urbano podem vir de:
- Fossas;
- Vazamentos de redes de distribuição de esgotos;
- Depósitos de lixo a céu aberto ou aterro sanitários;
- Práticas agrícolas: fertilizantes e pesticidas;
- Vazamentos de canalizações e armazenamento de produtos químicos;
- Despejo de lodo de esgotos no solo;
- Deposição e infiltração de poluentes atmosféricos;
- Intrusão de água salgada;
- Derramamentos acidentais de produtos nocivos;
- Infiltração de águas de escoamento superficial;
- Cemitérios”.
Acrescenta ainda: “Esses resíduos poluentes podem resultar na percolação (²) de microorganismos patogênicos, podendo alcançar os aqüíferos e prejudicando o seu uso para diversos fins. Um aspecto importante a se considerar no processo de infiltração da água são as fraturas em rochas consolidadas, que podem permitir a penetração do líquido a grandes profundezas ou distâncias.”


Como vimos, as águas das chuvas podem significar o oposto do que delas esperamos, se não pararmos com a geração descontrolada de lixo, especialmente nas áreas urbanas e industriais.
Com criatividade, determinação e capacidade de convencimento, poderemos fazer muito. Portanto, mão à obra!


"Nós nos transformamos naquilo que praticamos com frequência.
A perfeição, portanto, não é um ato isolado. É um hábito." (Aristóteles)


(¹) que contém água
(²) filtragem

 
Fontes:
1. Manual Live Earth de Sobrevivência ao Aquecimento Global, de David de Rothschild – Editora Manole
2.Monografia de Cristiana dos Santos Braga, link: http://www.clubedopetroleo.com.br/ncom/monografias/ambiente.doc#_Toc149019939
3. http://www.ana.gov.br/
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 18/04/2008
Reeditado em 09/02/2016
Código do texto: T951532
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