Alma de Merlin
Em algum lugar da escrivaninha moram as palavras que envelheceram. Dizem que não comunicam mais. Todavia procuro no dicionário e elas estão presentes diante dos meus olhos gordos. Vivinhas. Generosas e novinhas. Novinhas em folha. Nada de me tornar distinto com palavrórios. Sem usá-las aladas em conversas de café e até ocasiões formais. Verifico o silêncio desencharcado das pestinhas ao serem reencontradas: Se elas reconduzem ao tempo da linguagem escorreita. Se há efeito de atualização sobre a linguagem de prestígio. Aquele negócio de olhar para a folha em branco e reconhecer que existe uma folha em mim e que esta folha é ectoplasma.Tudo não passa de filosofia ou problema de visão.
Vamos ao dicionário. Sei que devo ir primeiro ao médico, mas vamos ao dicionário. Alma de Merlin o dicionário é a casa de todas as palavras e se o dicionário está para empréstimo, a casa é alugada. É a morada eterna que nos dá vigor e luz. Dicionário! Cadernão da magniloquência para uns e clarividência para... As diabinhas impressas no livrão são policromáticas. Vem daí o primeiro gosto pela novidade. Para espacear atenção conduzindo ao mesmo tempo um sentido panorâmico. A esmeralda mora na palavra esmeralda e consome toda a preciosidade. Os diamantes da solidariedade também.
Querida Alma de Merlin. (Alma de merlin? Alto-mar). A duidade implica dois sentidos. Dois, duidade. Um sentido de profunda purificação da maturidade. O segundo de elevação sobre a profundidade adjunta. A palavra cria escada móvel para o abismo e há salvação nela. A bonomia acalma o irado quando desabafa o verbo atônito. No texto o vocábulo arcano colado a outros três faz a bacalhoada. Quando nos deparamos com esse fato somos impactados por um tipo de brevidade totalmente teatral. Palavras desconhecidas existem de um pólo a outro e nos compreendemos!
Alma de Merlin: Mesmo que a coisa toque a idéia de druida sendo a beleza do peixe merlin descartada é estranho substituir um pouco o nome por Alma de Merlin. Uma palavra removida do diário é como o Merlin e a alma. Precisam de salvação. Diante da força de tudo saber como se fosse o ponto alto esse nunca compreender com tanta comunicação. Isso amarga nossa atenção de leitores. Eu gosto do tijolo dos étimos na construção intercorrente das frases preciosas. Raras e colhidas. Escolhidas a dedo.
- Você nunca conseguirá publicar um troço desses!
Tudo bem. Pelo menos agora posso deixar na escrivaninha para ser lida. Uma crônica novinha e com palavras velhas ressequidas. Alma de Merlin.