OS RÁBULAS Berenice Heringer

Na hora em que o casal pegou o corpinho da menina e atirou-o pela janela, o crime passou de culposo a doloso.

Os salamaleques dos advogados de defesa no caso Isabella nos deixam enojados. Parecem aqueles eunucos nos haréns dos califas, girando os abanos em cima de Barba Azul que acaba de matar sua décima cara-metade.

Sou inscrita na OAB-MG há mais de trinta anos. A grade curricular do curso de Direito é um primor de idealismo. Entretanto, o advogado vai se imiscuir no que os membros de uma sociedade têm de mais abjeto, espúrio e obsceno. O legista e o patologista também. Só que estes não precisam de fazer discursos. Só relatórios escritos. O advogado é o que discursa, o que fala, é aquele que tem o falo. Ah! Mas eles são nojentos. Meu professor de direito civil no 3º ano revelou-se um crápula dez anos depois. Ainda bem que logo ficou com a boca cheia de formiga...De outro, falarei noutra ocasião.

Se uma peça for bem encenada, uma farsa bem repetida, logo a mentira vira verdade.

Já pensou no poder de um desembargador? Ele pode embargar a vida de qualquer cidadão com um simples despacho. Aqui não estou por baixo na hierarquia.

Mas retomemos a picada onde os rábulas se desnorteiam e dão voltas. Rábula é rabinho. Não é só quem não tem estudo nem cultura. É principalmente o desonesto e falastrão. Se for formado, é um crápula com diploma. O rábula pode ter seu rabinho cotó preso em algum buraco. É uma paródia do advogado competente, sério, ético, honesto, ilibado, acima de qualquer suspeita, como deve ser um pofissional que lida com Justiça. Assim, com maiúscula, pois é como a Sabedoria: o apanágio dos deuses, um valor absoluto irrealizável para os mortais. A Justiça é a máxima aspiração de todos os povos. Irmã gêmea da Felicidade, um bem inalcançável, e que faz o poeta se lastimar : "existe sim, mas nós não a alcançamos, pois está sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos."

Falou e disse Vicente de Carvalho! Ave, Poesia, Pomo Dourado!

Esse arremedo de justiça que se vê por aí e por aqui é só um rapapé. E vamos ficando tão indignados que nos tornamos participantes de hordas, adeptos do linchamento e da lei de Talião. Um perigo, my God! Levar um tapa na cara da nossa vergonha faz a pressão subir e o sangue ferver como lava de vulcão.

Estou fazendo o que faço de melhor. Escrever e registrar minha revolta para a posteridade. Mas não me considero revoltada como fui tachada por uma colega de trabalho. Sou é revolucionária. Não mais idealista como um JJ Rousseau ao afirmar: "O homem nasce bom; a sociedade é que o corrompe". Nem igual à ingênua Olga Benário, seduzida por LCP, imolada por uma causa perdida, vítima nos campos de extermínio da barbárie humana.

Acho que cada qual se constrói ou se destrói e alguns se corrompem por sua própria conta e risco. Temos de tomar nossa Vida nas mãos, embalá-la com nossas crenças e dúvidas e resguardá-la com independência e responsabilidade. Somos frágeis e vulneráveis, sim. Não temos certeza de nada. Mas a ética pode ser buscada em nosso âmago e concretizada em ações e atitudes. Discurso vazio é sempre oco, mesmo que produza ecos... Vila Velha, 16/abril/2008

Berenice Heringer
Enviado por Berenice Heringer em 17/04/2008
Código do texto: T949578