Por onde andarão meus amigos?
Hoje senti saudade de meus amigos, perdidos no tempo e no espaço. Por onde andarão? São tantos que passaram por minha vida e de repente sumiram.Não foi por falta de querência, foi a vida. Fomos ficando, cada um de nós seguindo seu caminho, estragados pela rotina e de repente não estávamos mais lá. Vou buscá-los no fundo do coração e vou retirando um por um como se tiram lembranças de um velho baú empoeirado.
Alguns estão mortos, eu sei. Outros podem estar e eu nem sei. Uma caixa verde esquecida foi retomada. Limpei a poeira com as mãos e abri para reencontrar lembranças esmaecidas. Velhas cartas, retratos, cartões, coisas que nunca tive coragem de jogar fora, nunca terei.Alguém fará isso um dia, eu sei, sem nem olhar o conteúdo, mas não eu. Leio um pedacinho da carta de Eliana que nem sei se respondi: Anjo Barroco, alegria, menina que escreve contos, contista, nem te conto a alegria do teu cartão: foi ver você entrando pela casa adentro, invadindo meu apartamento em sol de Lavras e passarinho. Olímpia, Lavras cabe você? E vou lendo e me lembrando de todos que comigo conviveram por alguns anos durante os Festivais de Inverno em Ouro Preto: os meninos da Marragolo, Vicente, o boliviano por quem me apaixonei, Aparecida Rolim, Nelma, de quem tomei emprestado O Pirotécnico Zacarias e nunca devolvi, Eugênia, que há poucos anos descobriu minha sobrinha em seu local de trabalho e tentou retomar o contato,o Boy, o Marcos, a turma do ABC: Rose,Dirce, Nilza, Rafael,que descobriu uma conterrânea minha em São Paulo e sempre me mandava recados até que se cansou,o pintor peruano, o hippie argentino.Vou me lembrando do tempo em que encaracolei meus cabelos lisos de tal forma que o nome mais adequado que acharam para me dar foi o de Anjo Barroco, eu que sempre mais pareci uma índia com meus cabelos irritantemente escorridos. E eu continuo lendo a doce carta de Eliana:menina Olímpia, saia da janela que a vida está passando, tem palhaço, tem pierrot, tem colombina, tem baiana, serpentina, homem que engole espada, mulher gorda, trapezista, tem mordomo, tem madame, moça fina, executivo e executado, tem menino! Venha Olímpia, saia da janela, deixe Lavras, é preciso caminhar. Se junte a gente, aqui tem eu, tem o Hiram, a Nelma e a Eugênia, que te amam e te conhecem noves fora os que vão te conhecer e amar. E eu não fui, continuei na janela e eles passaram por mim e não voltaram. Mesmo com as promessas que ela fez, eu fiquei:...te prometo um namorado, um pouco dos meus livros e um canto para morar. Vem pra ca! Ah, como eu odiei Eliana um dia. Tínhamos um trabalho a apresentar e ela simplesmente se mandou para Belo Horizonte e me deixou na mão para fazer o tal trabalho quase que sozinha. Mas eu fiz e foi um sucesso e minha auto-estima foi lá em cima, tão alto que quando ela chegou no fim da tarde eu a recebi de braços abertos. Guardo a carta com carinho, a carta que fazia tempo eu não lia e outras lembranças vão desfilando como um velho filme em preto e branco. Me lembro de um dia, alguns anos depois dessa fase de minha história, eu andando despreocupadamente pela Av. Augusto de Lima quando um carro passa em alta velocidade e alguém grita: Oliiiiiiiiiiipiaaaaa! Era assim o tempo todo, eles me gritavam das janelas, no alto das ladeiras, gritaram assim quando eu desapareci no novoeiro e foram me procurar, gritavam quando me viam na rua...E eu nem soube quem era e até hoje não sei quem me chamou assim, me reconhecendo tantos anos depois.
E assim, como os amigos que fiz em Ouro Preto desapareceram do campo de minha visão, desapareceram os outros também: os amigos de Andrelândia, os amigos de São João del Rei, amigos de escola, de faculdade, de trabalho e até amigos da internet andam desaparecendo.O que me deixa pensando que a culpa é minha, não sou boa jardineira, não cuido bem de meus canteiros, deixo que roubem as flores do meu jardim.De alguns eu nem tenho fotos, só uma lembrança acinzentada que vai diminuindo, diminuindo...Mas de vez em quando eles voltam com força total, ocupam um pedaço do tempo e eu fico melancólica, sem saber o que fazer. Já faz algum tempo que tenho pensado em um deles de forma especial:por onde andará Michel Cristian, o amigo que se fez amigo porque me achou, lendo um texto meu em uma revista perdida em uma biblioteca nos subúrbios do Rio? E isso foi bem antes que houvesse internet, mas depois ele também se perdeu, como se perderam nossos sonhos. Por alguns anos eu via seu nome nos créditos do Fantástico mas depois até isso sumiu e nem o Google me diz onde ele está. Por onde andará Michel Cristian? Minha saudade grita mas ninguém escuta.
Hoje senti saudade de meus amigos, perdidos no tempo e no espaço. Por onde andarão? São tantos que passaram por minha vida e de repente sumiram.Não foi por falta de querência, foi a vida. Fomos ficando, cada um de nós seguindo seu caminho, estragados pela rotina e de repente não estávamos mais lá. Vou buscá-los no fundo do coração e vou retirando um por um como se tiram lembranças de um velho baú empoeirado.
Alguns estão mortos, eu sei. Outros podem estar e eu nem sei. Uma caixa verde esquecida foi retomada. Limpei a poeira com as mãos e abri para reencontrar lembranças esmaecidas. Velhas cartas, retratos, cartões, coisas que nunca tive coragem de jogar fora, nunca terei.Alguém fará isso um dia, eu sei, sem nem olhar o conteúdo, mas não eu. Leio um pedacinho da carta de Eliana que nem sei se respondi: Anjo Barroco, alegria, menina que escreve contos, contista, nem te conto a alegria do teu cartão: foi ver você entrando pela casa adentro, invadindo meu apartamento em sol de Lavras e passarinho. Olímpia, Lavras cabe você? E vou lendo e me lembrando de todos que comigo conviveram por alguns anos durante os Festivais de Inverno em Ouro Preto: os meninos da Marragolo, Vicente, o boliviano por quem me apaixonei, Aparecida Rolim, Nelma, de quem tomei emprestado O Pirotécnico Zacarias e nunca devolvi, Eugênia, que há poucos anos descobriu minha sobrinha em seu local de trabalho e tentou retomar o contato,o Boy, o Marcos, a turma do ABC: Rose,Dirce, Nilza, Rafael,que descobriu uma conterrânea minha em São Paulo e sempre me mandava recados até que se cansou,o pintor peruano, o hippie argentino.Vou me lembrando do tempo em que encaracolei meus cabelos lisos de tal forma que o nome mais adequado que acharam para me dar foi o de Anjo Barroco, eu que sempre mais pareci uma índia com meus cabelos irritantemente escorridos. E eu continuo lendo a doce carta de Eliana:menina Olímpia, saia da janela que a vida está passando, tem palhaço, tem pierrot, tem colombina, tem baiana, serpentina, homem que engole espada, mulher gorda, trapezista, tem mordomo, tem madame, moça fina, executivo e executado, tem menino! Venha Olímpia, saia da janela, deixe Lavras, é preciso caminhar. Se junte a gente, aqui tem eu, tem o Hiram, a Nelma e a Eugênia, que te amam e te conhecem noves fora os que vão te conhecer e amar. E eu não fui, continuei na janela e eles passaram por mim e não voltaram. Mesmo com as promessas que ela fez, eu fiquei:...te prometo um namorado, um pouco dos meus livros e um canto para morar. Vem pra ca! Ah, como eu odiei Eliana um dia. Tínhamos um trabalho a apresentar e ela simplesmente se mandou para Belo Horizonte e me deixou na mão para fazer o tal trabalho quase que sozinha. Mas eu fiz e foi um sucesso e minha auto-estima foi lá em cima, tão alto que quando ela chegou no fim da tarde eu a recebi de braços abertos. Guardo a carta com carinho, a carta que fazia tempo eu não lia e outras lembranças vão desfilando como um velho filme em preto e branco. Me lembro de um dia, alguns anos depois dessa fase de minha história, eu andando despreocupadamente pela Av. Augusto de Lima quando um carro passa em alta velocidade e alguém grita: Oliiiiiiiiiiipiaaaaa! Era assim o tempo todo, eles me gritavam das janelas, no alto das ladeiras, gritaram assim quando eu desapareci no novoeiro e foram me procurar, gritavam quando me viam na rua...E eu nem soube quem era e até hoje não sei quem me chamou assim, me reconhecendo tantos anos depois.
E assim, como os amigos que fiz em Ouro Preto desapareceram do campo de minha visão, desapareceram os outros também: os amigos de Andrelândia, os amigos de São João del Rei, amigos de escola, de faculdade, de trabalho e até amigos da internet andam desaparecendo.O que me deixa pensando que a culpa é minha, não sou boa jardineira, não cuido bem de meus canteiros, deixo que roubem as flores do meu jardim.De alguns eu nem tenho fotos, só uma lembrança acinzentada que vai diminuindo, diminuindo...Mas de vez em quando eles voltam com força total, ocupam um pedaço do tempo e eu fico melancólica, sem saber o que fazer. Já faz algum tempo que tenho pensado em um deles de forma especial:por onde andará Michel Cristian, o amigo que se fez amigo porque me achou, lendo um texto meu em uma revista perdida em uma biblioteca nos subúrbios do Rio? E isso foi bem antes que houvesse internet, mas depois ele também se perdeu, como se perderam nossos sonhos. Por alguns anos eu via seu nome nos créditos do Fantástico mas depois até isso sumiu e nem o Google me diz onde ele está. Por onde andará Michel Cristian? Minha saudade grita mas ninguém escuta.