Bloqueado indevidamente

Bêbedo nada. Bêbados brilhantes existem e sofrem com o alcoolismo, talvez em número reduzido. Ninguém fica brilhante porque está de porre. Bebo sempre socialmente. Existe o trânsito. Estive bebendo num posto de gasolina enquanto abasteciam. Ao dirigir não bebo. Repousava o sol de praia apenas ali. Dois passos adiante o frio matava mosquitos para nossa sorte. Beber num posto de gasolina dentro de um raio de sol parece literário. Certa felicidade ambulante e momentânea. Gente chegando e saindo como rodoviária do fantástico no destino ambulante. O pequeno copo mágico da mecânica introspectiva, essas coisas. O trânsito virtual é diferente do trânsito.

Em casa meto-me no computador. Embriagado diante dele e sugado pela internet sobrevém o humor que se define de modo totalmente novo. Mil esquinas. Mil palavras, mil dicas, mil recados. O mundo desconhecido visualizado. O aspecto gráfico tem algo de etílico na grande jornada virtual. Sem ser especialista navego gastando horas nessa tarefa de manipular botões, tocar imagens que desaparecem num tipo de Macondo. Impulsos sobre imagens tendem a tomadas rápidas de decisões. Ganhei certa vez um prêmio que nunca recebi.

Tomei uma decisão de redigir um manual. Está ainda por ser elaborado o meu Manual de E-mails. Como escrever corretamente. Um grande serviço para ser elaborado. Escrever é um fato. Sem pré-edição são dois enganos. Apenas não gostei. O bloqueio enunciava as horas derradeiras e tudo parecia bom e favorável. A priori. Deveria estar para café bem mais do que cerveja. Declino desculpas. Nada além da humilde desculpa. O mouse sofre um derradeiro adeus na partida porque no xadrez a maldade não existe. Há o conhecimento da nossa presunção maldosa destinada as derrotas. Somente o branco mental responde a certos imperativos virtuais e está para a linguagem ainda não configurada.

Depois desbloqueei. Sem deslumbramentos.

Aquele poema de Gregório de Matos Guerra: “Sempre és certeza, nunca desengano” defende o meu pensamento lírico. A embriaguez possui contentamento que parece equivoco pela inconsistência do momento. O segredo está na aquisição de um modelo de alegria. Pequeno oásis no instante líquido e prático. Nunca pensei adquirir ou ganhar de presente um computador que me provocasse aborrecimentos. No conjunto das idéias abordadas surgiram dificuldades quanto ao resumo de certas questões. Pimba: bloqueei. Li diversos casos sobre o tema. Suspeição de censura. Protestos. Democraticamente falando.

Dificuldade mesmo é saber se o que temos em casa é algo que realmente possuímos depois que somos tomados pela grandeza do sistema. O usuário navega pelo mar imenso. Alguém vem e coloca um chipe depois outro finca uma antena no telhado. Quando não está bem? Melhor seria cultivar o jardim. Há o jardim de almas. Das almas das flores e dos parques. Ó máquina poderosa!